Mesmo diante de um conflito tão grande quanto a 2° Guerra Mundial, ainda existem pequenas histórias que podem ser contadas, sejam reais, sejam ficções que chegam perto demais do real. Luz Natural fica no meio desse lugar, e o resultado é uma pequena grande história.
O filme é escrito e dirigido por Dénes Nagy, a partir de um livro de Pál Závada. Mas é impossível falar do filme sem citar o nome do diretor de fotografia Tamás Dobos. O visual é estupendo, firme, com uma iluminação que chama atenção pela delicadeza e uma construção plástica que poderia ser considerada uma pintura da realidade. Qualquer frame de Luz Natural poderia estar exposto em uma galeria de quadros.
O visual incrível ajuda bastante a compor o ritmo lento e que vai se arrastando por essa situação que cresce do controlado para o mais completo caos violento, digno do conflito e de toda sua selvageria. O filme acompanha o cabo Semetka (Ferenc Szabó), um soldado húngaro, Hungria que, por sua vez, ajudava a Alemanha na ocupação de alguns territórios da União Soviética.
A trama de Luz Natural não é esfregada na cara do espectador, é preciso esperar e ir curtindo o clima todo que vai sendo construído. O batalhão de Semetka chega a uma vila em busca de partidários dos inimigos, mas mesmo com toda tensão da imposição de poder, o clima é pacífico. Entretanto, acabam sendo atacados e, entre as muitas baixas, o pelotão fica sem comando, pelo menos até a chegada de um outro pelotão, esse, sem muita vontade de manter o clima de paz dentro da vila.
Luz Natural é então sobre esse limite. Semetka e construído como alguém de consciência, durante todo tempo inicial do filme esse seu lado é colocado em análise. Parece funcionar como é esperado dentro dessa máquina maior, mas nunca consegue exceder isso apenas por sua própria vontade ou desejo. Mas ele descobre seu limite.
Entretanto, não espere uma grande reviravolta ou surpresa. Semetka é um personagem passivo e se mantém dentro dessa inabilidade de agir além de suas obrigações. Talvez seja o cansaço de uma guerra recoberta de lama e injustiças, talvez apenas um pedaço de sua personalidade civil que não entra no uniforme. Mas nada disso é exposto pelo filme de Nagy.
Sobra apenas um retrato silencioso sobre violência e humilhação, mas com um ritmo lento, entretanto com um visual poderoso e deslumbrante que enxerga a beleza plástica de uma guerra que tinha pouco de belo.
“Természetes Fény” (Hung/Let/Fra/Ale, 2021), escrito e dirigido por Dénes Nagy, a partir do livro de Pál Závada; com Ferenc Szabó, Lászlo Bakjó, Tamás Garbacz e Gyla Franczia