Matador de Aluguel | É só não levar a sério

Se em 1989 já era difícil entender a razão da existência de um filme como Matador de Aluguel, em 2024 isso fica ainda mais esquisito. Mas lá atrás o filme se tornou uma espécie de clássico do gênero, mesmo sendo uma bobagem enorme e com o único intuito de colocar o astro Patrick Swayze na tela com toda sua marra e dando porrada em um monte de gente. Já no novo filme… bom, nada mudou.

Sai Swayze e entra Jake Gyllenhaal, que nem de perto vem com o mesmo currículo de seu predecessor em termos de “brucutuagem” e “sex appeal”, já que o falecido ator, naqueles dias, vinha de, por exemplo, o sucesso de Dirty Dancing. Mas estamos falando de um mundo diferente, Gyllehaal é o que podemos chamar de um ator respeitado e que não tem medo de papéis complicados, mas também é um cara que sabe rir de si mesmo e encarnar um tipo canastrão que deixaria Swayze com orgulho do legado que deixou.

Junte a isso a presença do interessante Doug Liman na direção e Matador de Aluguel se torna um passatempo muito mais divertido do que qualquer um apostaria. Afinal, ninguém realmente entendeu direito a razão desse filme ganhar uma refilmagem. Mas ganhou e é melhor relaxar no sofá (já que é uma produção da Prime Video) e se divertir.

E não pense que essa questão de ir direto para o streaming diminui sua capacidade de ser um grande filme cara de pau. Ele é enorme, cheio de cenas de ação grandiosas, cenários caprichados, locais paradisíacos para seus personagens conversarem diálogos que beiram a maluquice e (como eu já citei), um diretor absolutamente melhor do que o filme precisaria.

A história é quase a mesma daquela lá do filme de 1987, Gyllenhaal é Dalton um cara casca grossa que é contratado pela dona de um bar de beira de estrada em um lugar qualquer da Flórida, mais precisamente uma ilha onde todo mundo se conhece e, aparentemente, um vilão genérico qualquer tem interesses no bar, por isso manda sua gangue todo dia até lá para quebrar tudo. O trabalho de Dalton passa, justamente, por impedir que esses arruaceiros continuem fazendo esse serviço.

O resto é só diversão. Dalton ganha um contorno ainda mais canalha diante de uma calma que beira o farsesco e dá uma profundidade divertida ao herói. Mesmo meio trágico diante de um passado que ele precisa carregar para lidar com a tristeza, ainda assim isso nunca trava o personagem, pelo contrário, faz dele alguém ainda mais marrento e divertido. Gyllenhaal tira de letra essas duas possibilidades e realmente não leva a sério a ideia, deixando tudo leve e violentamente divertido.

Liman também não está muito preocupado com qualquer tipo de veracidade. Seu personagem principal beira um super-herói de gibi, que lida com uma faca na barriga como se fosse uma farpa e parece ter reflexos dignos de algum poder obtido por algum acidente saído das páginas da Marvel ou da DC. E a possibilidade dele morrer, independente de qualquer coisa que acontecer com ele, também é tirada da equação. Diante disso é só deixar o filme te levar e o diretor faz isso muito bem.

Em parceria com o diretor de fotografia Henry Braham (mesmo dos dois últimos Guardiões da Galáxia e do visualmente criativo O Esquadrão Suicida… também do Flash, mas esse a gente ignora!), Liman aposta no visual do filme. Tanto no capricho de cada cena e suas composições simples e objetivas, quanto nas cenas de luta, que (essas sim!) são a melhor coisa do filme. A câmera próxima da ação e os cortes precisos dão a cada soco uma veracidade gigantesca e faz até com que o espectador pense a respeito do limite real em cada golpe e onde começam os efeitos visuais e truques de câmera.

E o que dizer da presença do ex-lutador de mma Conor McGregor debutando no cinema? O irlandês parece não conseguir interpretar ninguém além de uma versão ainda mais irritante dele mesmo, mas, assim como o protagonista, tem superpoderes suficientes para ser um antagonista que pouco faz sentido dentro do filme. E se tamanha canastrice e exagero ainda não convencer o espectador de que Matador de Aluguel não deve ser levado a sério, realmente é melhor ficar longe dele.

Mas quem entrar na brincadeira, com certeza vai se divertir com um dos filmes que menos tinham razões para ser feito, nem o original e muito menos esse. Mas também uma ideia que ultrapassa o limite do que pode ser enxergado como tosco e ruim, para se tornar um passatempo perfeito para quem gosta de filmes de ação com mais capricho do que a qualidade de suas intenções mereciam. Sorte dos espectadores.


“Road House” (EUA, 2024); escrito por Anthony Bagarozzi e Chuck Mondry; dirigido por Doug Liman; com Jake Gyllenhaal. Daniel Melchior, Conor McGregor, Billy Magnussen, Jessica Williams, B.K. Cannon, Joaquim de Almeida, Lukas Gage e Dominique Columbus.


Trailer do Filme – Matador de Aluguel

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