Que viagem é este Mate-o e Deixe Esta Cidade. Nas trilha ainda aparece o nome do compositor e guitarrista polonês Tadeusz Nalepa, que esteve ativo na cena rock/blues nos anos 70 com a banda Breakout. É uma música que vai na alma e que tem tudo a ver com esta vigorosa, conceitual e mórbida animação.
É um percurso sobre vida e morte e o relacionamentos entre humanos concentrados nas memórias um pouco nostálgicas, um pouco deprimentes, de seu protagonista. A existência como um todo, com uma visão peculiar, mas acurada, sobre o que “foi viver”. Diálogos cortados no cotidiano colocam em evidência a pequenez da vida dos humanos, irrelevância da morte e o sofrimento dos outros animais posta na perspectiva que melhor entendemos: nos colocando em seu lugar.
O amor é cantado como a única coisa que torna as coisas melhores nesta vida suburbana que é mostrada no filme, triste e que envelhece as pessoas. Os seres humanos deste filme são retratados como decadentes, e até as crianças estão amaldiçoadas pela sociedade onde nasceram. Elas brincam apenas quando os adultos não estão olhando ou dando uma bronca.
A animação é absurda de boa. Criada pela equipe de Mariusz Wilczynski e por ele próprio, que ainda assina roteiro, direção e arte, ela mistura diferentes artes através de luzes, sombras e traços em 2D com paisagens 3D; brincando com perspectiva, alucinações que mesclam a animação e cenário, junto da troca de papéis entre animais e humanos, é provavelmente um dos filmes desta Mostra de Cinema de São Paulo que abrirá mentes.
Mate-o e Deixe Esta Cidade merece constar na lista de filmes esse ano. É mais uma janela que se abre sobre diferentes percepções do mundo. E de brinde contém lindíssimas, profundas, músicas de Tadeusz Nalepa, que se você ainda não conhecia, como eu, agora ganha esta chance.
“Kill It and Leave This Town” (Pol, 2020), escrito por Agnieszka Scibior, Mariusz Wilczynski e Mariusz Wilczynski, dirigido por Mariusz Wilczynski, com Andrzej Wajda, Maja Ostaszewska e Daniel Olbrychski.
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