Não é nenhuma novidade que o principal sentimento de todos que saírem de uma sessão de Maze Runner – Correr ou Morrer seja de vontade de conhecer um pouco mais sobre a história adaptada desse best seller juvenil de 2007, afinal ele é só a primeira parte de uma trilogia de livros. Se não é a primeira vez que você terá essa sensação nos últimos anos é por que Hollywood (e até o mercado literário) não parece se cansar de explorar esse filão.
Pior ainda, Maze Runner (melhor deixar de lado o horroroso subtítulo que o filme ganhou no Brasil), assim como o recente Doador de Memórias e os menos novos Divergente e Jogos Vorazes”conta a história de um futuro distópico ou pós apocalíptico onde um jovem acaba sendo a única chance de esperança do resto da humanidade. Tudo bem que em “Maze Runner” esse lado “futurista” fica um pouco de lado boa parte do tempo, mas é impossível negar o quanto sempre os mesmo botões são apertados.
Por outro lado, nesse caso, o filme dirigido por Wes Ball (que ficou famoso um tempo atrás com um curta de animação chamado The Ruin), pelo menos, tenta ser algo minimamente diferente de seus semelhantes, o que já é um baita ponto positivo. Nele, Thomas (Dylan O´Brian, que você só deve conhecer se já esbarrou com o seriado adolescente Teen Wolf) acorda dentro de um elevador que o leva até uma ravina cheia de adolescentes e um misterioso labirinto que parece ser o único modo de sair desse arremedo de Senhor das Moscas.
Arremedo, por que a enorme maioria dos personagens já não são crianças, conseguem então criar uma espécie de sociedade primitiva minimamente organizada, e Thomas acaba sendo o ponto de ruptura desse status quo. Uma quebra que vem graças a uma espécie de curiosidade e senso de sobrevivência que o faz então tentar ir mais longe ainda nesse tal labirinto enorme e protegido por uma espécie de monstro (os verdugos) com apêndices mecânicos e um jeitão que fica entre uma batata com dentes, uma aranha e um escorpião.
É lógico que com uma história desse tamanho e tão cheia de possibilidades arrumar uma explicação que não soe estapafúrdia e desinteressante seria quase um milagre, e o trio de roteiristas Noah Oppenhein, Grant Pierce Myers e T.S. Nowlin faz isso à risca. Talvez com receio de mudar o original, ou talvez por realmente acharem que isso funcionaria, mas de qualquer jeito embalando os últimos momentos do filme com todo espaço para o segundo, mas sem respeitar nem um neurônio sequer de quem acabou de ver o primeiro.
Por sorte tudo isso acontece de modo rápido e indolor, deixando o espectador na maioria do tempo com muito mais perguntas que respostas, alguns personagens interessantes e ação na medida para que ninguém se chateie. É lógico que grande parte desse interesse vem com premissa interessante, afinal não é sempre que se dá de frente com um labirinto de proporções tão gigantescas e um mistério que não pede para ser desvendado.
Por outro lado, Ball ainda aproveita bem esse cenário e acerta em cada uma das cenas de ação. Ainda que sempre se resumam a algumas perseguições contra um monstro ou contra o tempo (daí o subtítulo horrendo). Com composições e uma montagem, ambos eficientes, acaba então empolgando a cada momento que os personagens decidem entrar nesse labirinto, e para muito isso já valerá o ingresso.
Um ritmo que acaba sendo o ponto mais interessante do filme, já que não tem tempo para muita enrolação e decide, ainda por cima, não perder ele nem com alguma espécie de romance que poderia existir diante da presença de uma garota que surge no meio da história. Maze Runner enfim é sobre esse labirinto e aquela porta com “SAÍDA” escrito em verde (momento mais engraçado do filme).
Bem verdade, diferente de seus outros companheiros de “distopias futurísticas teens”, Maze Runner não parece preocupado com nada, assumindo apenas uma postura superficial e pragmática. Talvez pela primeira vez até, um labirinto não tenha nenhum significado mitológico ou por trás daquelas paredes, servindo apenas de obstáculo para que os personagens (e até os espectadores) descubram o mundo lá fora. Ainda que isso (obviamente) vá ficar para sua continuação, para um novo labirinto e quem sabe dessa vez um pouco mais de profundidade.
“The Maze Runner” (EUA, 2014), escrito por Noah Oppenheim, Grant Pierce Myers e T.S. Nowlin, à partir do livro de James Dashner, dirigido por Wes Ball, com Dylan O´Brien, Aml Ameen, Ki Hong Lee, Blake Cooper, Thomas Brodie-Sangster, Will Poulter e Kaya Scodelario