por Vinicius Carlos Vieira em 08 de Dezembro de 2010
A maior revolução que a animação deu para o cinema, sem sombra de dúvidas, é a falta de amarras físicas que uma tinta e um papel (hoje pixels) davam para o diretor contar aquela história. É lógico que a evolução tecnológica deu a esses mesmo cineastas a possibilidade de fazer quase o mesmo com uma tela verde e um monte de computadores. Quase, por que ainda seria impossível fazer um filme como “Megamente” se não fosse de modo digital.
Repetir a história talvez fosse possível, usar os mesmo personagens também, copiar seu visual muito provavelmente fosse o problema. O filme de Tom McGrath (que dirigiu “Madagascar” e sua sequencia) não só conta a história de um supervilão às voltas com um jeito de acabar com seu arquiinimigo, Metromen, como faz isso por meio de imagens perfeitamente criadas por computador. Não para imitar um real, mas sim para criar o seu real.
Cada frame, cada personagem, situação e sequencia de “Megamente” é um show de referências, não apenas do mundo pop, mas sim em um trabalho de direção de arte impecável que faz cada elemento em cena contar uma história. Se é impossível não enxergar na história do vilão sendo mandado embora de seu planeta, em uma pequena espaçonave pouco antes dele explodir, uma referencia à história do Superman (na verdade Metromen tem a mesma história), o que McGrath e sua equipe fazem o resto do tempo é colocar seus espectadores à vontade com o que estão vendo.
Metrocity (cidade protegida pelo herói) parece saída de um milhão de outras histórias de super-heróis, Megamente é o estereótipo extremo, que bebe na fonte de inúmeros vilões magricelos, cabeçudos, cheio de traquitanas mecânicas, um ajudante paspalhão e uma vontade invencível de apanhar do herói. No meio disso tudo Megamen, discursando sobre a água, com seu rosto talhado em madeira e sua capa esvoaçante. E esse esforço todo de McGrath em deixar todos à vontade com seus personagens é recompensado com uma trama que flui perfeitamente, já que o visual já está lá criando uma zona de conforto imensa para seu público.
Com isso em mente, o que ele faz é tentar imaginar o que aconteceria com o Lex Luthor se ele conseguisse derrotar o Superman, e para McGrath a resposta é tédio. E é exatamente isso que mais move seu filme, por mais que tudo seja uma referência alguma outra coisa, o diretor desenvolve sua trama de modo a surpreender todos. Logo de cara por tomar o lado do vilão, e pior ainda, olhar para ele como uma pessoa sem opção, que vive à sombra do herói, só lhe restando então, infernizar a vida do mesmo como profissão.
O melhor disso tudo, é que, em nenhum momento sequer o espectador vai sentir aquele tédio do vilão vencedor, já que a cada cena, McGrath parece completamente à vontade para fazer graça com qualquer coisa, principalmente por que, nesse momento, você já está torcendo pelo vilão a um tempão.
E o roteiro de Alan Schoolcraft e Brent Simons (ambos estreantes) só ajuda ainda mais a compor todo esse cenário, tendo o pulso forte para levar sua história, sem se perder no meio do caminho em nenhum momento, ao mesmo tempo em que explora um humor meio cínico e pouco usado em animações, que exige uma certa rapidez de raciocínio em alguns diálogos caóticos e uma dose de referências para entender a maioria esmagadora das piadas. Não que o espectador “médio” não vá se divertir com a maioria das coisas, com certeza vai e muito, mas um público com mais bagagem, vai rir sozinho de algumas cenas.
“Megamente” vai ganhar o público por usar botas de “bebês foca”, ou requentar a vingança no “microondas do mal”, assim como vai conquistar a todos com seu modo Rock´n Roll de entrar em cena (isso acompanhado de uma trilha sonora na medida, que acompanha perfeitamente o filme e sabe até tirar alguns risos disso, por mais que com algumas piadas bem usadas, como a música lenta na hora errada). Do mesmo jeito, que vai empolgar com suas sequencias de ação e encantar com seu visual sensacional, que fica na beira daquele estilizado imortalizado pelo ótimo “Os Incríveis”, mas parece, ao mesmo tempo, criar seu próprio estilo, e no fim das contas, acaba se tornando um ótimo passatempo tanto para os pequenos quanto para os adultos.
veja aqui o trailer do filme Megamente
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Megamind (EUA, 2010), escrito por Alan J. Schoolcraft e Brente Simons, dirigido por Tom McGrath, com vozes originais de Will Ferrel, Jonah Hill, Brad Pitt e Tina Fey
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[…] de conquista um público mais maduro com suas referencias inteligentes (assim como o interessante Megamente), a continuação do sucesso de 2008 parece seguir muito mais aquela Dreamworks que, ano passado, […]