É impossível não gostar de Megatubarão (o primeiro lógico!), com sua cara de pau enorme para surpresas e uma vontade gigantesca de não se levar a sério. Era um tubarão gigante, então depois é outro maior ainda com Jason Statham fazendo coisas que seres humanos não conseguiriam enquanto olha para a câmera com cara de poucos amigos. E se tudo isso estivesse de volta em Megatubarão 2, com certeza, todo mundo sairia do cinema com sensação de dever cumprido. Mas com um preâmbulo desse tamanho, é óbvio que não é isso que acontece.
Na verdade é difícil até entender o que acontece. O filme começa lá atrás, durante o período cretáceo, 65 milhões de anos atrás, com os moradores de uma praia sendo devorados uns pelos outros. Quem é maior come o menor, até que um Tiranossauro Rex vira o almoço da estrela do filme, o Megatubarão, ou como o pessoal da ciência o chama: Carcharodon Megalodon.
Mas não se empolguem, já que o tubarão gigante acaba sendo coadjuvante de seu próprio filme. “Tubarões” na verdade, já que além de uma espécie em cativeiro pronta para fazer tudo dar errado, ele ainda se junta a dois outros amiguinhos (amigões). Infelizmente aparecendo muito menos do que os fãs gostariam. O resto da trama é uma bagunça.
Logo de cara o Jonas de Statham sai de dentro de um contêiner para enfrentar um monte de bandidos que jogam lixo tóxico no meio do oceano. Chutes e pontapés para todo lado e uma impressão que o filme não faz parte da franquia. Corta então para o outro herói de ação do filme vivido por Jing Wu dentro de um exoesqueleto enquanto quebra quadrados de concreto e se prepara para mergulhar no fundo mais profundo do mar… e talvez enfrentar uns blocos de concreto por lá. Mas não se empolguem também com o tal exoesqueleto, porque ele, juntos dos tubarões, vai ser esquecido em termos de cenas de ação.
Bem verdade o equipamento vai sim ser aproveitado em uma sequência, mas ela está lá no escuro do oceano, abaixo de uma tal de “termoclima” e com uns bichos sem nome e nem personalidade, mas está tudo escuro e ninguém vai enxergar nada.
Seria melhor ainda se mais coisas estivessem escuras e parte da história também pudessem ser esquecidas pelo espectador. Na falta de tubarão, o segundo filme apela para uns mercenários genéricos fortões e mais gente para o Statham dar porrada. Mas não se preocupem, ele também dá porrada no tubarão (nos tubarões!).
Depois de um longo e tenebroso meio de filme debaixo d´água com traições, minérios que valem bilhões, gente explodindo sem sangue e Statham dando uma nadada sem equipamento a 7.600 metros de profundidade (e deixando até o Ocean Gate com vergonha), todo mundo vai para a “Fun Island”, espécie de resort no meio de algum lugar aparentemente perto da China ou não, mas que é uma espécie de “cemitério de boas ideias”. Não existe absolutamente nenhum segundo nesse terceiro momento que não pareça já ter sido visto em algum outro lugar e a falta de criatividade do nome é só o começo.
Entretanto, sem surpresa alguma, Megatubarão 2 fica bem melhor quando entram em cena os tais megatubarões. Comendo turistas, saltando no ar, enfrentando um “Mega Polvo” e, é lógico, sendo derrotados pelo Jason Statham. Em certo momento, em uma câmera lenta que beira a picaretagem, o herói Jonas “dropa uma onda” com seu jet ski enquanto explode a cabeça da criatura cretácea através de uma lança montada em um bote inflável.
Falando em Statham, é preciso celebrar o quanto o ator se entrega e leva a sério absolutamente qualquer canalhice e exagero que o protagonista necessita para cumprir as necessidades do filme. É como se ele acreditasse tanto naquilo que dá um fio de credibilidade a toda bobagem e aleatoriedade do filme.
E tudo é tão aleatório e ridículo que o texto de dois parágrafos atrás não consegue resumir tudo que acontece no final do filme. Tem cachorro, tiros, aquelas criaturas genéricas, um helicóptero e uma cena (“luta” final) que deixaria a série Sharknado com inveja com um golpe que passeia de mãos dadas com um absurdo que não é razoável nem para a suspensão de descrença construída desde o primeiro filme.
Mas tudo será salvo pela Guarda Costeira americana no final, seja lá em que lugar do mundo eles estejam. Tempo suficiente para quem estiver no cinema ficar torcendo para que esse seja o último número a aparecer depois do título Megatubarão. Que os fãs fiquem com o primeiro e toda sua divertida maluquice.
