Uma vez ou outra Holywood ainda parece se dar ao trabalho de tentar ser mais do que diversão, muito menos do que deveria isso é verdade, mas mesmo assim ainda como um sopro de conteúdo em um vendaval de futilidade. Milk – A Voz da Igualdade (em mais um sub-título desnecessário) é um exemplo disso: Hollywood dando dinheiro para um filme com algo a falar.
Talvez seja um pouco mais que isso, dirigido por Gus Van Sant, Milk esteja mais é para um manifesto, misturando até imagens de arquivo, tentando ser um pouco documentário e fazendo de tudo o possível para confundir o filme com a realidade, e nisso, é muito bem sucedido. Nessa mistura, você é apresentado a Harvey Milk, primeiro gay assumido a ser eleito em um cargo político nos Estados Unidos, mas que foi assassinado durante esse primeiro mandato.
O filme se preocupa não em mostrar uma tragédia anunciada, mas em apresentar toda luta do movimento homossexual de São Francisco pelos seus direitos, acabando por criar um debate muito mais amplo, que, com certeza provocará uma ou outra discussão, no bom sentido, na saída do cinema.
Mas é o tato de Van Sant que parece fazer o filme sobreviver. Vindo de uma fase um tanto quanto “artística” com seus Paranoid Park e Elephant, parece transpor a sensibilidade deles, para, por fim, fazer um filme muito mais “normal”, mas que ainda assim conquista o público por parecer diferente do que se tem visto nos cinemas atuais. Não em termos estéticos, mas sim em um sentido mais narrativo, como se escondendo por trás da câmera para apenas mostrar uma história como ela pede para ser contada. Longe de criar um distanciamento (coisa que o filme luta para não ser é distante), apenas é objetivo em suas decisões, sem “gordura”, como se fizesse questão de apenas falar, o que tem que falar.Van Sant, não faz disso uma novidade em sua carreira, apenas volta a realizar aquilo que fez em Gênio Indomável, com uma ou outra ressalva, e indo ainda mais longe.
No começo de Milk você se surpreende com a força da atuação de James Franco, como namorado do protagonista, momentos depois, vê Emile Hirsch sumir por trás do cabelo cacheado e dos enormes óculos, quando você pensa que acabou, o mexicano Diego Luna aparece roubando a cena de um modo afetado ao mesmo tempo que Josh Brolin cria um personagem talhado em madeira, é nesse hora que você passa a tentar entender como todos esse nomes conseguem fazer trabalhos tão bons, sutis e sinceros, em atuações que se permitem ser reais, mesmo que isso peça uma ou outra extravagância, e é nesse momento que você deve lembrar do que Van Sant fez a mais de uma década atrás: arrancou um ótima atuação de Ben Afleck.
E não acaba aí, já que, depois disso vem fazendo o mesmo ótimo trabalho com elencos em sua maioria amadores. É como se ele soubesse para onde apontar sua câmera e filmar atuações que não parecem arrancadas à força, mas sim como se soubesse aproveitar os melhores momentos, e isso fica mais ainda mais claro quando parece se perder em frente de Sean Penn e seu Harvey Milk.
Diante de todos esse coadjuvantes, Penn faz apenas o que sempre fez e some por detrás do ativista gay, servindode pilar, não só para o filme, mas para todos à sua volta, que parecessem se inspirar diante de sua figura. Penn consegue uma atuação na medida, que faz você torcer para que o verdadeiro Harvey Milk tenha sido aquilo ali, e é exatamente isso que parece maravilhar Van Sant, sem o mínimo receio de deixar sua câmera ligada enquanto Penn toma de assalto todo enquadramento cada vez que aparece em cena.
Milk (desse vez sem o sub-título) acaba sendo um filme emocionante ao seu máximo, mas que não se preocupa em causar esse efeito, como se apenas contasse uma história real, e sensível, mas que acaba por se mostrar muito mais que o bastante para causar esse efeito no espectador.
Milk (EUA, 2008) escrito por Dustin Lance Black, dirigido por Gus Van Sant, com: Sean Penn, James Franco, Emile Hirsch, Josh Brolin e Diego Luna.