As árvores que jorram dinheiro em franquias de animação já conseguiram provar com Os Pinguins de Madagascar e Carros 2 que spin-offs de personagens secundários – os que geralmente completam a história para seus heróis – têm tudo para dar errado. No entanto, agora é a vez de Meu Malvado Favorito (e sua sequência) remoer o terreno de sua árvore milionária, e ela esta plantada em um terreno arenoso, uma vez que as histórias dos dois filmes dependiam de uma série de piadas prontas jogadas na tela em um ritmo que não nos permitia perceber que sua história principal são dois fiapos de raiz prestes a se romper. Dessa forma, podemos considerar a ideia de produzir um filme apenas com os seres amarelos dos dois filmes – que realizam cenas pontuais de dois segundos – um projeto ambiciosamente marqueteiro e artisticamente repulsivo.
A história tenta ser um prequel que narra rapidamente as aventuras dos Minions por dezenas de milhões de anos (desde a época dos dinossauros), definindo-os como seres cuja essência instintiva é procurar o “chefe do mal” e o seguir. Ironicamente, todos os seus líderes sucumbem às trapalhadas dos bichinhos amarelos, fazendo girar o ciclo de evolução no decorrer das Eras, passando por uma classificação que parece se basear em uma enciclopédia antiga chinesa: um T-Rex, o “homem” (um indivíduo?), um faraó (onde ajudam a endireitar um projeto de pirâmide que originalmente estaria ao contrário, ou seja, com uma das pontas servindo como “base”; sim, é esse o nível de “humor” do filme), e, por fim, Napoleão, onde a partir de sua suposta tentativa de invadir a Rússia o exército dos Minions fica perdido em algum lugar do Pólo Norte (obviamente onde fica a Rússia).
Depois de séculos, um deles, Kevin, decide então ir em busca de um novo líder, seguido de perto por mais dois seres amarelos. Seus nomes não importam muito, pois sequer personalidade eles têm, parecendo que foram escolhidos para a jornada pelo roteiro “porque sim” (ou porque possuem um formato e número de olhos diferente).
De qualquer forma, eles acabam em Nova Iorque, onde ficam sabendo de um evento de vilões em Orlando, e cuja carona que pegam é apenas um artifício para existirem mais personagems que torcem pelo trio de amarelos. Talvez também para conseguirem atingir a incrível marca de 91 minutos de “história”. Dessa forma, conhecem a vilã mais malvada do mundo: Scarlett Overkill, que coincidentemente está contratando capangas e que coincidentemente acabam sendo você-sabe-quem. O sonho da vilã é roubar a coroa da rainha da Inglaterra, e praticamente acabou-se toda a estrutura narrativa necessária para impulsionar as novas piadas envolvendo os bichinhos amarelos.
Dessa vez a direção principal fica por conta de Kyle Balda, que até então havia apenas co-dirigido O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida. O que se prova um desastre. Evidentemente entediado com a história escrita por Brian Lynch (um dos diretores da série original), Balda parece mudar de estilo apenas para não ficar esquecido nesta grande produção. É por isso que, de repente, no terceiro ato, uma câmera de mão equipada com rack focus (zoom rápido) é usada para mostrar as sequências envolvendo um elemento-surpresa não presente nos trailers (aliás, existe cerca de 10% de elementos não mostrados nos trailers).
Sem noção nenhuma de como tentar amarrar minimamente as gags com uma história que tenha começo, meio e fim, Minions aposta, como seus antecessores, em personagens engraçadinhos com situações tiradas da cartola, com a exceção de que aqui, com a ausência de Gru e as meninas Margo, Edith e Agnes, não há quem suporte uma sequência ininterrupta de situações envolvendo bichinhos amarelos cuja lógica não entendemos. Sem contar – é preciso fazer uma “menção honrosa” – o namorado de Scarlett: uma figura que de tão antipática acaba soando engraçada em momentos pontuais (como na sala de tortura).
Por fim, a figura de Gru obviamente seria mencionada (algo que nem considero como spoiler em um filme como esse). A única coisa que não esperaríamos seria uma sequência de frases-chave que tentam, além do famoso cachecol, fazer o espectador entender que, por se passar décadas antes de Meu Malvado Favorito, aquele é o Gru ainda jovem. Só faltou mesmo uma legenda explicando o óbvio, o que revelaria de uma vez por todas a essência do público-alvo que os idealizadores buscam atingir. Felizmente (espero), nem todos acham hilária uma árvore cuja única função é jorrar dinheiro do lado da empresa que licencia a venda de bonequinhos amarelos que fazem barulho.
“Minions” (EUA, 2015), escrito por Brian Lynch, dirigido por Kyle Balda e Pierre Coffin