É impossível medir o tamanho de um clássico ou sequer mensurar sua capacidade de sobreviver e influenciar o cinema depois dele. Evil Dead, ou Morte do Demônio e Uma Noite Alucinante, qualquer que seja o nome que você prefere chamar, é desse tamanho e A Morte do Demônio: Ascensão é mais um capítulo desse legado.
Evil Dead, o primeiro, de 1981, alçou Sam Raimi a um patamar de gênio do gênero, com razão. Nunca antes no cinema aquilo que estava naquele filme tinha acontecido. Duas continuações, uma série e uma espécie de remake depois, o novo filme ainda consegue ser algo novo, justamente por ser mais desses mesmo que todo fã do gênero adora.
Por mais que esbarre no comecinho em uma cabana no meio da floresta com o título surgindo por trás do horizonte em um movimento barulho e exagerado, Ascensão não vai tão longe quando o terceiro filme foi, mas ainda assim vai para um lugar divertidamente novo: Um prédio.
O roteiro escrito pelo diretor Lee Cronin (do recente “The Hole in the Ground”) capricha nessa parte assim como Raimi o fez 40 anos atrás. Um prédio decrépito que não deveria estar recebendo nenhum ser humano em seu interior, mas que também está construído sobre algo que vai colocar seus moradores em perigo. Nada de muito novo e é isso que mais diverte.
As futuras vítimas do demônio são na verdade a família de Ellie (Alyssa Sutherland, que nada tem a ver com a família do Kiefer, mas é conhecida por sua participação na série Vikings), suas duas filhas, um filho e ainda a irmão, Beth (Lily Sullivan) que chegou de surpresa em uma noite qualquer. Mesma noite onde ocorre um terremoto e o filho descobre abaixo do estacionamento os cofres do banco que existia ali antes do prédio. Mesmo cofre que foi usado por uma ordem de padres para guardar um certo livro sinistro e uns discos de vinil que comentam as aventuras desses padres com o famoso Naturom Demonto.
No resto do tempo, o livro é despertado, devidamente conjurado e traz de volta o mesmo demônio de sempre, com sua personalidade incrível e sua vontade enorme de infernizar a vida de todos que estiverem em sua frente. Nada de novo, mas com um cuidado tão grande que encherá o coraçãozinho dos fãs de sangue… o coração e todo resto com 6,5 mil litros de sangue de mentirinha. Um número que deveria estar no cartaz do filme e que faria os fãs irem correndo para assisti-lo.
Ao invés de uma cabana e uma floresta, Cronin fecha sua ação em um apartamento, seu corredor e um final que remete aos originais com uma grande luta em um estacionamento onde chove sangue, criaturas horrendas, tiros, uma motosserra e, é claro, frases de efeito e um diretor que sabe que colocar sua câmera nos lugares mais esquisitos e exagerados fará os fãs gritarem de alegria.
Sem muitos spoilers, por mais que isso esteja no cartaz e em toda divulgação, Alyssa Sutherland é um show de demônio. Sua maquiagem é incrível e toda sua postura faz com que sua personificação demoníaca seja tão boa quanto todas outras da série. Principalmente, pois Cronin, assim como Fede Alvarez o fez em 2015, sabe aproveitar bem o nível de tecnologia de sua realidade para fazer um A Morte do Demônio ainda mais chocante, poderoso, aterrorizante, divertido e imperdível.
Diante de todo intensidade da série, assim como seu objetivo gore e impactante, é quase uma obrigação que de tempos em tempos ela seja refeita para novos públicos ficarem ainda impactados pelo exagero e pela vontade sempre de ser aquele filme de terror do ano que faz as pessoas virarem a cara de aflição ou fecharem os olhos diante das ideias mais desagradáveis e malucas. Morte do Demônio: Ascensão tem tudo isso.
Talvez os fãs mais puristas reclamem de um clima menos humorístico para quem não estiver se divertindo com as referências e brincadeiras visuais, mas Ascensão tem personalidade suficiente para buscar um clima próprio e uma construção que não quer simplesmente repetir o original, mas sim usá-lo para ir além. Assim como suas inspirações, Cronin nunca cria um filme para apostar em um susto ou “jump scare”, mas sim no clima. No momento inevitável onde sua câmera antes mostra um ralador de queijo e deixa a mente do espectador ter tempo suficiente para realizar que ele será usado daquele jeito que você menos quer que eu seja.
Morte do Demônio: Ascensão é exatamente isso, esse esforço incômodo para tirar o espectador daquele lugar óbvio que o filme de terror sempre fica preguiçoso e repetitivo. Assim como todos outros filmes da série, ele quer mais. É exatamente isso que os clássicos do cinema fazem: vão além. Evil Dead, ou qualquer nome que tenha sido batizado no Brasil, vai sempre além e nunca decepciona.