Mostra Foco Minas (Curtas) – Série 2

Essa rodada de curtas na Mostra Tiradentes explora sensações e experimentos na linguagem. Se trata da sessão leve do dia, pois a seguinte já pega mais pesado no cenário sócio-político. Estes são filmes de momentos, recortes de vidas privadas que evocam nossa identificação ou admiração pelo cineasta ou pela ideia. Ou por ambos.


A Última Vez que Ouvi Deus Chorar (Minas Gerais/Br, 2023); dirigido por Marco Antonio Pereira

Com a estreia de Cibele Zêodi direto na telona, ela vive uma segunda Maria, uma jovem do interior do Brasil que pode ter engravidado de Deus. Porém, as injustiças do mundo geram um aborto espontâneo.

É a figura do mítico sendo derrubada pelo apedrejamento do sagrado nos tempos de hoje, nos dias de cólera. É uma fotografia dissonante, com uma câmera cambaleante.

É o estilo do velho Cinema Novo buscando novos espaços em um mundo sem saída.


Não Há Coincidências Ocupando Esta Carne (Minas Gerais/Br, 2022); dirigido por Júlia Elisa

Quinquagésimo filme sobre negritude da Mostra, dessa vez com um foco na didática das escolas em informar sobre a época da escravidão. O filme é uma colagem simbólica de sensações no imaginário negro a respeito do passado traumático e do presente que não consegue existir sem esses fantasmas a trazer a angústia histórica.

Mais experimental que ficcional, o trabalho de Elisa cria uma rima com o mais enérgico Caixa Preta, longa que faz dupla dessa temática tão em voga e tão debatida com palavras vazias. Aqui sentimos o poder do audiovisual em ilustrar o berro de protesto sem a necessidade de eloquência ou argumentação.

É a dor transformada em imagens e sons.


Aragem (Minas Gerais/Br, 2022); dirigido por Ricardo Alves Jr.

Daquele gênero tão colado em produções de curta duração que é o pedaço da vida, Aragem busca pincelar momentos entre as vidas de uma mãe aposentada e sua filha com a agenda cheia. Elas vivem os poucos momentos juntas porque a correspondência de uma ainda é entregue na casa da outra. A mãe está vivendo em algum lugar do litoral brasileiro e surge espontanemente sua vontade de cuidar um pouco do neto.

Com isso o diretor Ricardo Alves Jr. treina movimentos batidos da cinematografia brasileira, que de tão parecidos com os recém-saídos da faculdade de cinema vira um clichê.

É aquele cinema subjetivo que encontra objetividade no marasmo da introspecção.


Nossa Mãe era Atriz (Minas Gerais/Br, 2022); dirigido por André Novais Oliveira e Renato Novaes

Documentário homenagem póstuma à atriz Maria José Novais Oliveira, que aos 60 anos de idade de uma vida de dona de casa decide se tornar atriz e é indicada em Cannes por sua participação em O Quintal. Depois faz mais alguns filmes de relevância ao país, incluindo o muito premiado (e merecido) No Coração do Mundo.

Os momentos do curta são obrigatórios para entendermos de onde vem a força de certas personagens. Vem desse sopetão, quando a arte encontra a vida.

É um filme burocrático, desejoso de lágrimas ou sentimentalismo, mas sua parte documental está lá em alguns segundos bem filmados.


Acompanhe os outros filmes da 26° Mostra de Cinema de Tiradentes

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