De acordo com a lei de propriedade intelectual dos Estados Unidos, tudo que foi lançado antes de 1929 iria para domínio público 95 anos após esse lançamento. Não criação, lançamento. Isso significou que no dia 1° de janeiro de 2024 aquele primeiro Mickey Mouse da animação Steamboat Willie poderia ser explorado por qualquer um no território americano. Não qualquer Mickey, somente aquele.
Isso levou muito gente a correr atrás do uso do ratinho em preto em branco nos mais curiosos projetos imaginados. Felizmente (ou infelizmente), anos atrás o bonitinho Ursinho Puff (ou “Pooh” se você for mais novinho) já tinha perdido os direitos e virado uma série de filmes de terror. O que nos leva a Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra.
E seja lá o que esse subtítulo queira significar (se é uma referência ao Tropa de Elite ou se está simplesmente enfrentando seu espectador), agora é hora do Mickey sair por aí matando geral. “Por aí” talvez seja um exagero, afinal ele fica só em um ambiente, muito provavelmente por razões orçamentárias: Uma espécie de “parque de diversões” fechado (que fica em Ottawa). A produção rodou o filme inteiro em oito dias dentro dessa locação, então pode esperar Mickey atacando esses adolescentes em um monte de lugares repetidos.
A trama escrita por Simon Phillips (que também interpreta o assassino) é estapafúrdia, com o dono do parque sendo “invadido” pelo rato do desenho quando um pouco de água cai em um fio desencapado enquanto ele vê a animação. Por sorte e conveniência, o próprio tinha uma máscara “vintage” do Mickey, então é só vesti-la e começar o massacre. Por que o ratinho simpático do desenho queria matar tanto os jovens, pouco importa.
Na verdade o filme começa bem depois do massacre, com dois policiais interrogando uma moça que parece ser a única sobrevivente dos assassinatos. Mas o diálogo entre eles é de uma cretinice tão sem tamanho que é impossível não entender o tom que o diretor Jamie Bailey carregará para seu filme
Talvez a diversão ainda comece antes, com um letreiro meio deitado e amarelo (apontado como “completamente genérico”) salientando que o filme que virá a seguir não tem nenhuma ligação com a Walt Disney, que eles sequer leram as mensagens enviadas para eles, mas que continuam sendo amados pelos criadores do filme.
Junte toda essa cara de pau e será impossível julgar Mouse Trap a rigor do que se entende como bom ou ruim. É como se existisse uma região cinzenta entre esses dois lados que permite, principalmente que o terror, se encaixe nesse lugar onde algo pode ser tão ruim e dá a volta e permite que aquilo deixe de ser dolorido e se torne diversão.
Os diálogos cretinos dos policiais com a sobrevivente contaminam completamente o resto do elenco, portanto, toda e qualquer pessoa que aparece no filme tem uma observação idiota sobre alguma situação imbecil. O esforço semiamador das falas entrega uma camada extra de canastrice bem-vinda em obras do tipo. O que fica ainda pior (ou melhor) com absolutamente todas decisões do roteiro. Sim, “todas”. Não há sequer uma boa ideia na trama inteira, começando pelos flashbacks da personagem onde ela não está presente (e o policial pergunta sobre isso!) e terminando pelo poder de teletransporte do Mickey.
A surpresa dos personagens de que o assassino pode se teletransportar beira o inimaginável. Mas talvez seja difícil de perceber isso, já que todo mundo ali é de uma ruindade tão gigantesca que fica a torcida para que nenhum deles largue seus trabalhos para apostar só no cinema.
Mas tudo bem, acho que esse texto começou a pegar pesado demais com o elenco. Ignorem o parágrafo anterior para se divertir com a mais absoluta falta de dinheiro para criar cenas de assassinatos minimamente dignas. Claramente só existia dinheiro para uma última decapitação com sangue, portanto não espere muito desse Mickey.
Tudo bem, ainda pegando pesado e cobrando o filme de muito mais do que ele parece querer ser. O melhor mesmo é tentar desligar de seu cérebro aquela chavinha que não te permitirá se divertir com um filme tão absolutamente ruim como Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra. Quem conseguir isso vai ter pouco menos de 90 minutos de uma diversão cretina e cara de pau. O resto do pessoal… bom, duvido que esse público se aventure nesse filme esperando algo além disso. Portanto, se você chegou interessado até aqui, bom divertimento.
“Mickey´s Mouse Trap” ou “The Mouse Trap”; (Can, 2024); escrito por Simon Phillips; dirigido por Jamie Bailey; com Simon Phillips, Sophien McIntosh, Madeline Kalman, Ben Harris, Callum Sywyk, Mirelle Gagné, Kayleigh Styles, Mackenzie Mills, Allegra Nocita, Damir Kovic, Nick Biskupek e Wyatt Dorion.