Se a maioria do terror produzido hoje em Hollywood já é sinônimo de filme trash, ou no máximo medíocre, o que dizer de suas continuações. E este A Mulher de Preto 2: O Anjo da Morte infelizmente não foge muito da regra. Pegando carona no ambiente tenebroso da casa abandonada em torno de uma ilha, o filme nos apresenta uma história semelhante passada no mesmo lugar, embora na época da segunda guerra.
Seguindo à risca a cartilha do “novo” terror, o diretor televisivo Tom Harper não mostra muito, o que é um bom sinal, pois boa parte do medo reside no não-visto. Porém, impotente em conseguir criar qualquer tipo de cena aterrorizante, somos brindados por aqueles sustos que apelam para o aumento desproporcional do volume da trilha sonora e pela invasão irritante de objetos e criaturas fora de campo.
E por falar sobre o que vemos, a fotografia, diferente da clareza assustadora no interior da casa da obra original, parece que agora as névoas em volta dela tomaram conta dos aposentos. Com isso a casa perde sua personalidade anteriormente conquistada. Vira mais uma atração de parque de diversões. O uso de lentes distorcidas e fundos desfocados também é uma escolha arriscada, pois apesar de conseguir nos desorientar, nunca nos leva ao clima de terror de fato, se limitando a um suspense de segunda categoria.
E quando digo “de segunda” me refiro à qualidade de suas surpresas, que soam sempre banais e previsíveis. Quando o pequeno Edward se aproxima da cortina do quarto já sabemos de antemão que ele nunca irá alcançá-la.
A história, responsável por apresentar os personagens e seus dilemas, parece nunca chegar à segunda fase, se satisfazendo em repetir estereótipos todo o tempo. Edward (Oaklee Pendergast), o garoto que se recusa a falar, é apenas uma criança que tomou um choque com a morte dos pais. No meio de tantos órfãos ele não se destaca. Da mesma forma temos um romance no ar junto de tudo que precisávamos saber sobre o filho abandonado da moça Eve Parkins (Phoebe Fox), algo que descobrimos logo no primeiro sonho/delírio da moça. Eve, assim como o protagonista interpretado por Daniel Radcliffe no primeiro filme, parece não ter medo de nada, e adentra lugares onde nunca esteve – como o porão – logo na primeira noite. Não tem medo de ficar sozinha no escuro, e os inúmeros e irritantes sustos usados no filme com um som estupidamente aumentado parecerem para ela meras distrações.
Eve, quase sempre de azul, parece ser a que destoa daquele clima sem cor. Curiosamente, é a que mais se assemelha ao “Anjo da Morte” do subtítulo. Por que? Como vimos na primeira cena, ela é ingênua/tola o suficiente para sempre mostrar um belo e vazio sorriso. Pelo menos seu passado explica sua determinação em tentar consertar algo no presente. O copo está sempre metade cheio para ela, e mesmo que custe a vida de algumas crianças, o que importa é manter o garoto mudo a salvo.
E uma última coisa: aquele jovem – o interesse amoroso de Eve – tem medo de água, uma história triste envolvendo sua tripulação, mas ele é “rebaixado” da marinha para a aeronáutica? Bom, cada um faz o que pode nesse roteiro sem sentido.
“The Woman in Black 2: Angel of Death” (RU/Can, 2014), escrito por Jon Croker, dirigido por Tom Harper, com Helen McCrory, Jeremy Irvine e Phoebe Fox