Antes de qualquer coisa, Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho não é a melhor história de Paulo Coelho, talvez em algum lugar dele até esteja essa “tal história”, mas a impressão que fica ao final da cinebiografia dirigida por Daniel Augusto é que menos poderia ser mais.
É claro que sair do cinema conhecendo esse escritor brasileiro que se tornou um dos mais traduzidos do mundo é algo interessante, ainda mais com o sensacional trabalho plasticamente muito mais que competente do diretor, acaba valendo o ingresso, mas uma certa falta de profundidade é proporcionalmente desanimadora. Com um baita visual interessante, Não Pare na Pista fala de tudo, mas acaba não falando de nada.
Passa pela adolescência de Paulo Coelho, pelo conflito com o pai, pela passagem por um manicômio, pelo despertar do escritor, pelas peças, por um grande amor, pelo sucesso e pelo encontro com Raul Seixas. Ao mesmo tempo que passeia pela “descoberta” do misticismo, pelo RAM, suas espadas, símbolos e Santiago da Compostela, e culmina com seu primeiro livro. Tudo isso enquanto observa o protagonista nos dias de hoje, refazendo o caminho pela Espanha enquanto reflete o que foi e até o que há por vir. Sem sombra de dúvidas uma vida agitada, mas isso todo mundo sabe.
E esse é o maior problema: uma correria para contar uma história completa, quando talvez o melhor fosse contar uma história por vez. É fácil então entender como se formou a personalidade desse jovem que só queria uma máquina de escrever, mas que se tornou a figura mundialmente conhecida, mas também é fácil achar que isso ocorreu de modo simples e linear. O que não deve ser verdade, ainda mais no quanto permite que a relação de Paulo Coelho com Raul Seixas soe rasteira e simplista.
Como se apostasse em histórias demais e não percebesse uma aparente falta de conflitos. De pedaço em pedaço, Não Pare na Pista caminha sem problemas, mas demora para sair do lugar, não chega a muitos e (não conseguindo fugir do trocadilho) acaba parando no meio da pista.
Talvez então falte um pouco mais de Raul Seixas, ou até um pouco mais das transformações que a famosa ida do escritor ao Caminho de Santiago de Compostela tenha provocado. E ainda que isso criasse um filme mais pessoal ou até institucional do personagem, talvez conquistasse quem entre no cinema em busca do que está por trás da história que todos já sabem. E essa simplicidade só não é um problema maior para o filme pois todo o resto compensa.
Não só a direção sempre em busca da beleza de um ângulo mais rebuscado (por trás do chuveiro ou refletido pelo espelho sujo) e de uma objetividade que facilita a história, mas também de um elenco competente (talvez apenas a maquiagem carregada do personagem no presente atrapalhe um pouco, algo mais leve muito provavelmente valorizasse mais o trabalho de Júlio de Andrade), mas também um roteiro que opta por uma narrativa não linear e faz com que a experiência ganhe uma dinâmica incrível. Como se tudo pudesse estar acontecendo ao mesmo tempo em que se encaixa e forma essa figura nos dias atuais.
Não Pare na Pista então funciona bem como um quebra-cabeça, ou um mosaico, que vai se formando e explicando quem realmente é esse homem que sai de uma cirurgia no coração e embarca mais uma vez no caminho que definiu sua vida. Não um recorte sobre um período e muito menos uma “melhor história”, mas apenas uma cinebiografia estilosa no visual, mas que prefere não se aprofundar, ou, simplesmente, não tem mesmo para onde se aprofundar. Se um ou outro, talvez todos fiquem sem saber.
(idem, Bra, 2014), escrito por Carolina Kotscho, dirigido por Daniel Augusto, com Júlio Andrade, Ravel Andrade, Fabiana Gugli, Fabiula Nascimento, Lucci Ferreira e Paz Vega