Talvez o diretor alemão Roland Emmerich tenha sido o primeiro a explodir a Casa Branca com estilo (através do “tiro” de uma espaçonave), diante disso, não seria injustiça que ele tivesse a oportunidade, 18 anos depois, de, mais uma vez, colocar o centro do governo americano abaixo em O Ataque. Principalmente para ensinar como se faz!
É lógico que esse recado deve ir diretamente para Antoine Fuqua e seu fraco Invasão à Casa Branca, já que os dois parecem partir da mesma premissa, com as mesmas situações, mas que deixam bem claro que quando Emmerich se mete em uma história dessas, o buraco acaba sendo muito mais embaixo.
Enquanto o Fuqua vem das ruas de Dia de treinamento, Emmerich já acabou com o Planeta Terra três vezes, levou Godzilla para Nova York, chacoalhou a pré-história, a Revolução Americana e até as Pirâmides do Egito. Portanto, acabar com a Casa Branca é fichinha. E tanto ele tem certeza disso que parece nem se levar a sério, não só por que cita seus próprios ETs destruindo a Casa Branca, nem pela meia dúzia de piadas (algumas sem a mínima graça) que temperam o roteiro preciso de James Vanderbilt, mas sim por que sabe que desde o primeiro momento ninguém no cinema irá levar aquilo tudo á sério.
Principalmente, por que tudo se baseia em uma série de situações que necessitariam de uma boa-vontade enorme do destino para que acontecessem daquele jeito e não dessem errado logo de cara. O segredo então é fazer todos no cinema acreditarem que, realmente, em pouco mais de cinco minutos a Casa Branca pudesse ser tomada por um diminuto grupo de mercenários. É lógico que não poderia, mas quem está ligando pra isso?
Emmerich então mergulha em sua versão de Duro de Matar, com Channing Tatum vivendo o segurança pessoal de um Deputado (na verdade Presidente da Câmera, vivido por Richard Jenkins), que consegue uma entrevista para uma vaga no Serviço Secreto exatamente no dia que James Wood, chefe de segurança da Casa Branca, decide tomar o lugar. Tatum então acaba tendo que salvar sua filha (Joey King), aficionada pela sede do governo, e ainda o Presidente (Jamie Foxx). E para quem vai ao cinema em busca de um pouco de ação, essa premissa nas mãos do diretor é muito mais que suficiente para 131 minutos que não decepcionarão ninguém.
Voltando um pouco, dois parágrafos atrás, na parte do “roteiro preciso” de Valderbilt, é exatamente ele que mais ajuda a essa loucura de Emmerich faça muito mais sentido que a besteira de Fuqua. E se O Ataque parece “perder tempo” preparando o terreno em um primeiro momento, não se envergonha de amarrar de modo completamente simplista todo resto do filme diante desses minutos, o que dá ao espectador a oportunidade de não ser surpreendido (no bom sentido) por nenhuma reviravolta. Portanto, do relógio do Lincoln a um antigo pager, passando por um “talento de balançar uma bandeira”, tudo vira resolução épica dentro do esforço de criar uma trama que se esforça para fazer sentido.
No resto do tempo, O Ataque tem espaço suficiente para mostrar onde todo dinheiro foi gasto, e quando Emmerich faz isso é pra valer, o que é, mas divertindo ainda, já que precisa se esforçar em muito para conseguir usar bem toda geografia do local. Melhor ainda, sem medo de soar exagero, consegue até enfiar uma perseguição de carros, e até um avião sendo abatido. O que dificilmente será razão para qualquer reclamação, já que, mesmo diante de uma trama que não tenta ter uma resolução simples, nada parece fora do lugar nem usado só para fazer barulho.
(e aqui alguns spoilers!) E se para isso funcionar ele precisar embolar um bocado de motivações, número suficiente para que ao final ninguém no cinema saiba realmente quem está nessa história por dinheiro, quem está por vingança e quem está por poder, o interessante é perceber que Hemmerich não parece nem se importar com isso, já que só quer mesmo é explodir coisas e deixar seus personagens soltarem uma série de frases de efeito que serão um deleite para os mais empolgados. (aparente fim dos spoilers!)
Mas o que mais deve agradar a quem for ao cinema em busca desse tipo de filme é a clareza com que Emmerich trata O Ataque, não existe sutileza, uma bomba tem cara de bomba, os mercenários (mesmo os mais inúteis e descartáveis) parecem saídos dos mais diversos filmes de ação dos anos 80 e 90, com suas tatuagens, pirulitos e caras de russos. Um filme sem frescura e que não consegue segurar o riso diante de uma bala sendo parada por um relógio (e aqui tinha mais um spoiler!). Um filme que recebe a assinatura do diretor com todos os méritos, e, muito provavelmente deve fechar esse ciclo que tanto maltratou a coitada da Casa Branca. Pelo menos até a próxima temporada de filmes catástrofe.
White House Down (EUA 2013), escrito por James Vanderlbilt, dirigido por Roland Emmerich, com Channing Tatum, Jamie Foxx, Maggie Gyllenhaal, Jason Clarke, Richard Jenkins, Joeus King e James Woods