O Atlas dos Pássaros é uma incursão corporativa e familiar tensa do diretor iugoslavo (hoje a Eslovênia) Olmo Omerzu. Tudo começa com um pequeno detalhe na rotina do empresário Ivo Rona e CEO de uma companhia familiar, quando ele descobre que sumiu uma quantidade vultosa de dinheiro dos caixas da companhia. Esta é a maior crise nos negócios da empresa em três décadas e Omerzu filma tudo com uma cena puxando a outra. Não há pausas na tensão, mesmo quando Ivo Rona sofre um infarto e seus filhos passam a ser o foco em cena. Esta é apenas uma pausa para o café.
A história escrita por Omerzu e por Petr Pýcha é crível a ponto de pararmos para pensar se não se trata de uma adaptação de uma notícia do jornal de economia da Eslovênia. E a coisa se desdobra em cima de um personagem cuja obstinada dureza carrega um piano nas costas (a companhia) e não quer nem aliviar a carga nem compartilhá-la com seus três filhos. Ele não suporta a administração de seus filhos homens e gostaria que sua filha mulher assumisse por ser a mais centrada e razoável. Porém, ela acabou de ter seu neto. E simples assim todo o plano de longa data de três gerações sai dos trilhos quando um caso clichê do magnata e sua “secretária” (aqui contadora) coloca não sua vida pessoal, mas a profissional a perder.
O tom de O Atlas dos Pássaros é bem noveleiro e o roteiro brinca com uma piada interna a respeito do dono da empresa cadastrar nos contatos do celular seus casos extraconjugais com nomes de pássaros. O filme dá voz aos pássaros das paisagens por onde se passam as cenas, o que vira mais uma distração do que qualquer coisa. No fundo o filme gostaria muito, aproveitando a moda, de fazer alguma crítica social a respeito de ricos e pobres e como todos irão morrer cedo ou tarde e se trata sobre o percurso, e não sobre o sucesso ou fracasso da empreitada, mas a incursão dos pássaros é tímida demais frente à trama principal.
“Atlas Ptáku” (Cze/Esl/Esl, 2021), escrito por Olmo Omerzu e Petr Pýcha, dirigido por Olmo Omerzu, com Miroslav Donutil, Alena Mihulová e Martin Pechlát.