O Corvo | Tomara que “nunca mais”

Pode até existir a impressão de que O Corvo, de 1994, só ficou famoso em razão da morte de seu protagonista, Brandon Lee (filho do Bruce Lee), durante as filmagens, mas essa é uma ideia errada, o filme era bom. Era baseado na obra de James O´Barr de modo responsável, carinhoso e praticamente inaugurou a carreia do diretor Alex Proyas, que se tornou um cara interessante e com um estilo próprio (Cidade das Sombras e Eu, Robô) antes de afundar sua carreira mais recentemente com Deuses do Egito. Agora, tudo ligado à franquia O Corvo o que veio depois disso é sofrível.

Foram mais quatro filmes e uma temporada de uma série. Todos horrorosos, todos esquecíveis e todos sem ninguém ter visto. “Quatro”, porque poderiam ser três, mas não é isso que acontece, afinal, não existia nenhuma razão coerente para que esse novo O Corvo chegasse aos cinemas. Chegou e só não foi esquecido antes de estrear, pois tinha muito dinheiro envolvido. Mas acreditem, se um pessoal famoso não estivesse no cartaz, ele estaria sendo lançado “diretamente nas locadoras”, como aconteceu nos últimos três.

O Corvo (novo) é apenas um desfile de decisões erradas. No visual. Nos atores. Na narrativa. No dinheiro que gastaram com isso. Na falta de vergonha na cara de não deixar a história em paz. Ou que, pelo menos, levasse para as telas algo que fizesse valer a marca do gibi de O´Barr. Que era bom demais. Soturno, apaixonado, violento e místico.

Esse O Corvo do diretor Rupert Sanders não é nada disso. Sanders é conhecido (e não festejado!) por seus trabalhos em Branca de Neve e o Caçador e a adaptação de Ghost in The Shell para os cinemas. Ambos com uma coisa em comum com O Corvo: uma vontade enorme de ser superficial e artificial.

Saem os personagens doloridos e pesados em meio a sombras, chuva e vingança, entre em cena um filme que é praticamente iluminado demais e que pega um caminhão de atalhos para chegar em seu objetivo. Bill Skarsgård é Eric, um cara bagunçado, cheio de tatuagem ruim e um cabelo escroto. Mas como é bonitão e tem um trauma de infância gigantesco envolvendo sua mãe junkie e seu cavalo branco, se torna um cara fofinho e apaixonado enquanto não está se enchendo de drogas.

Do outro lado, FKA twigs (que é muito mais cantora e pop star do que atriz) é Shelly, igualmente junkie (porém mais riquinha), mas que acabou se metendo em uma enrascada com um vilão óbvio vivido por Danny Houston (que, preguiçosamente, tem um pacto com o capiroto e um poder esquisito). Para fugir dele, ela acaba indo parar em uma clínica de reabilitação mega cara e confortável. Que é onde eles se apaixonam entre conversar absolutamente ruins, uma fuga e… adivinhem: drogas.

Como faz parte da mitologia do personagem (por obrigação) ela é assassinada na frente de Eric e ele morre junto, mas acaba ganhando uma oportunidade de voltar à vida para se vingar de seus algozes e poder salvar a alma de sua amada. Agora sem drogas, as tatuagens vagabundas e o cabelo feio ganham a companhia de um sobretudo estiloso e uma pintura na cara que deixaria o Coringa do Heath Ledger feliz. Ah! E ainda uma mini espada samurai. Porque sim. Acontece.

Junto da espada vêm a razão do filme ter a classificação indicativa 18 anos, já que Sanders não sabe muito o que fazer com o resto da história, mas exagera o quanto possível na violência das cenas de ação e lutas. Isso porque, o principal poder de Eric (agora O Corvo) é apanhar. Portanto, nosso herói é espancado, furado e toma milhões de tiros. Tudo pelo amor… e também pela vontade do diretor de esconder o quanto o resto do filme é chato, óbvio e artificial.

Já aquela famosa cara de escuridão gótica das obras originais, bom, ela não está presente se não for pelo sobretudo e pelo Joy Division na trilha sonora. Ainda que o protagonista bote fogo na mãe enquanto chora pelo cavalo, o que é bem gótico, diga-se de passagem. E fica mais gótico quando fica olhando para a cicatriz na palma da mão enquanto sua alma lamenta todas decisões ruins do roteiro que o colocaram naquele lugar.

Mas O Corvo (esse novo) custou US$ 50 milhões, então ele não poderia simplesmente ser esquecido como Cidade dos Anjos, A Salvação, Vingança Maldita e O Caminho do Paraíso. E se você não sabe o que são esses títulos pouco criativos, entendeu meu ponto, principalmente, porque O Corvo de 2025 só não está entre eles ainda, pois ainda não se perdeu entre as fileiras de filmes esquecíveis no streaming mais perto de você.


“The Crow” (EUA, 2024); escrito por William Josef Schneider e Zach Baylin; dirigido por Rupert Sanders; com Bill Skarsgård, FKA twigs, Danny Huston, Josette Simon, Laura Birn e David Bowles


Trailer do Filme – O Corvo

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