O Declínio – Sobrevivência ao estilo canadense


[dropcap]O[/dropcap] Declínio é o primeiro filme original Netflix de Quebec, capital informal do Canadá francês. Para quem não sabem, sim, o país tem duas línguas oficiais, o francês e o inglês, além de um longa história separatista.

O filme acompanha a história de seis pessoas, todos sobrevivencialistas, ou seja, que acreditam na possibilidade concreta de colapso social e governamental e que se preparam para esse evento, aprendendo e treinando habilidades de uso de armas, caça, fabricação de bombas, estocando combustível e comida, isto é acreditando no viés paramilitar desse colapso apocaliptico.

Esse sexteto é convidado para um treinamento no local de sobrevivência de um youtuber famoso no segmento, Alain (Rèal Bossé), mas depois de um acidente, o grupo acaba se dividindo e a luta pela vida se torna muito real.

Primeiro de tudo, chama a atenção ver um filme com esse tema saindo do Canadá, país com fama de ser um povo “fofo” e que quase nunca se altera. Mas quando se vê de onde veio, tudo fica mais claro, Quebec nunca foi fofa, pelo contrário, gosta de uma porrada, compartilhando hoje de status similar à Catalunha e País Basco, nações dentro do país central. Outra série da Netflix, estrelada por Jason Momoa, Frontier, se passa justamente na região, além de ter sido o local onde se passa, por exemplo, O Último dos Moicanos.

Os primeiros quinze minutos demonstram bem esse histórico, com uma “fuga simulada” de uma família, um vídeo do sobrevivencialismo de Alain e a apresentação do sexteto, com declarações e atitudes fortes de cada, professando sua crença no “’apocalipse” e a necessidade de se preparar para o inevitável, de como a população vai sofrer e coisa e tal.

Segundo, com todo esse potencial, a expectativa sobe consideravelmente e o resultado, para dizer o mínimo, é frouxo, principalmente pela direção deficiente de Laliberté e o roteiro preguiçoso do trio de escritores (incluindo Laliberté).

Quase não existe tensão durante a projeção, ficamos passivos demais e a trama não entrega a urgência e senso de perigo necessários. Não conseguimos nos envolver com os personagens o suficiente para nos importarmos com seus destinos e assim a experiência não consome muita atenção.

No lado positivo, foi interessante ver a inversão de simpatias ao longo do filme, os personagens que a gente inicialmente simpatiza se mostram monstruosos e vice-versa. Proximo a isso, as cenas de violência são bem filmadas e adequadamente sangrentas, embora bem espaçadas.

Serve pela curiosidade de ver pessoas falando francês elegante agindo como toscos, mas para por aí. Vale a visita, sem grandes expectativas. O título original se traduz como “até declinar”, ou seja, até desistir… eu desisti logo.


“Jusqu’au Déclin” (CAN, 2019), escrito por Charles Dionne, Nicolas Krief e Patrice Laliberté; dirigido por Patrice Laliberté; com Guillaume Kaurin, Marie-Evelyn Lessard, Rèal Bossé, Marc Beaupré, Marilyn Castonguay, Guillaume Cyr e Marc-Andrè Brondin.


Trailer do Filme – O Declínio

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