O Desejo de Ana | Não explora as nuances, está preocupado demais com os excessos

*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


[dropcap]O[/dropcap] Desejo de Ana faz lembrar como a culpa cristã e o puritanismo americano impedem uma abordagem mais honesta do incesto. Se para Hollywood a paixão entre primos já seria um tabu forte demais para a telona, imagine o espectador médio assistindo sobre um romance entre irmãos.

Mas este acaba sendo um filme leve na maioria do tempo. Juan vem visitar sua irmã Ana na cidade e dorme alguns dias no sofá de sua casa. Eles compartilham um passado, mas agora ele irá ter um filho e ela tem um garoto sagaz, responsável por todas as risadas do filme, e está noiva de alguém que não faz sentido.

A maneira velada de abordar o tema concebido por Emilio Santoyo (que dirige) e Gabriela Vidal se desdobra aos poucos, como as pétalas das flores que Ana cultiva na varanda do seu apartamento. O cheiro e aroma aqui são usado como metáforas para relações autênticas, que vão além da mera conveniência. São mais forte que nosso ser, ou melhor, o definem. Ana e Juan não têm vergonha do que são, e o filme então só tem a explorar essa tensão crescente, tão usada nos romances e thrillers.

A dupla de cineastas teve um problema a ser resolvido e acabaram usando a seu favor. Seus personagens não criam tensão moral alguma. Bem resolvidos, estão revisitando sua essência, então o filme se volta para as reações do seu espectador, já que este sim, provavelmente, possui alguma tensão moral a respeito de incesto.

De qualquer forma, O Desejo de Ana nunca consegue se tornar algo a mais que a revisita do passado e nossas reflexões sobre o assunto. Ele não explora as nuances, está preocupado demais com os excessos, que é combustível para o conflito do título. Diferente do escândalo que poderia causar em Hollywood se lá fosse feito (é produção mexicana), acaba sendo rápido, fugaz e esquecível.


“El deseo de Ana” (Mex, 2019), escrito por Emilio Santoyo e Gabriela Vidal, dirigido por Emilio Santoyo, com Laura Agorreca, David Calderón León e Ian Garcia Monterrubio.



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