Pela Perspectiva Internacional da Mostra de SP em 2022, o japonês está nostálgico e cinéfilo. O Deus do Cinema chega no festival relembrando a indústria que estava nascendo no pós-guerra através de uma ficção inserida na época e recordada em plena pandemia. Feito para fazer chorar, uma vez que a quarta parede se quebra ela vira uma apelação bonitinha e teatral. Um filme difícil de desgostar.
Seu núcleo é um triângulo amoroso formado na juventude e cujas vidas voltam a se cruzar no tempo presente. Suas vidas se cruzaram em torno do cinema japonês. Terashin, um projecionista, Goh, um assistente de direção e Yoshiko, uma atendente de bar tão simpática quanto Setsuko Hara em Era uma Vez em Tóquio (um dos filmes referenciados no longa). O flashback sobre essas pessoas é charmoso e instigante, pois tem relação direta com a produção cinematográfica.
Conversar sobre cinema sempre é um prazer, e assistir a um filme sobre pessoas conversando sobre cinema o prazer é em dobro. Observar os jovens da época dá um quentinho no coração. A paixão juvenil de tentar transformar o velho drama e romance em algo mais fantasioso e introspectivo é ingênuo e revolucionário ao mesmo tempo. Essa é a forma do filme querer voltar no tempo e no estilo, onde novas ideias iriam pavimentar os novos caminhos da arte.
No entanto, a trama é conduzida pelo consagrado diretor Yôji Yamada com pouca imaginação. Seu roteiro feito em parceria com a escritora Maha Harada começa acompanhando essa família com o avô Goh viciado em apostas e bebida e conduz a explicação movido pelo amor da época em que ele poderia ser um grande diretor, com um roteiro nas mãos que de maneira cômica referencia um dos melhores filmes do centenário Woody Allen, A Rosa Púrpura do Cairo.
A história vai ganhando contornos nostálgicos. O amor pelo cinema de Yôji Yamada e Maha Harada não precisa de esforços para conduzir esta experiência pelos bastidores das produções da época. No entanto, o núcleo da história perde a força conforme vamos descobrindo que não há reviravoltas. Tudo o que imaginamos para um final feliz é o que acontece, e não de uma maneira instigante, mas convencional.
O Deus do Cinema soa como trabalho inacabado. O roteiro dentro do filme precisa ser atualizado para os tempos atuais para concorrer à altura em um prêmio literário de prestígio. A sensação é que o roteiro do próprio filme poderia se beneficiar de algumas reedições pós-pandemia. A nostalgia está no ar, mas não como a imaginávamos em 2019.
“Kinema no Kamisama” (Jap, 2021); escrito por Yûzô Asahara, Maha Harada e Yôji Yamada; dirigido por Yôji Yamada; com Kenji Sawada, Masaki Suda e Mei Nagano.
CONFIRA MAIS FILMES DA COBERTURA DA 46° MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO