O Dia Em Que A Terra Parou Filme

O Dia em Que a Terra Parou | Klaatu barada nikto


Em 1951, O Dia em Que a Terra Parou despontava como uma ficção científica, com jeitão de filme “B”, que parecia desesperada por passar uma mensagem pacifista diante de um mundo às portas de uma suposta guerra nuclear. Cinquenta anos depois, a tal guerra não aconteceu (ainda), com isso, só restando a sua refilmagem fazer o que o cinema hoje em dia faz de melhor: tentar ganhar muito dinheiro.

E tudo nessa nova versão dirigida pelo “modernoso” Scott Derrickson, de Exorcismo de Emily Rose remete a exatamente isso: fazer o melhor possível para ir bem nas bilheterias, mesmo que isso o obrigue a quase renegar seu original em preto em branco.

Se a cinquenta anos atrás aquele “homem que veio do espaço”, Klaatu, tentava passar despercebido enquanto entrava em contato com os líderes mundiais a fim de passar uma mensagem importante, essa revisão atual cai no bom e velho “esquema fugitivo” de ser, onde o mesmo Klaatu (Keanu Reeves) agora tem que bater perna enquanto todo exército vai em seu encalço.

Sem um pingo da sutileza que o fez um clássico em seu original, O Dia em que a Terra Parou acaba por se transformar em apenas mais um no monte de filmes catástrofes que todo ano aparecem pelos cinemas. O jeito tênue de passar pela trama dá lugar a uma penca de efeitos especiais e uma inevitável sequencia destruindo Manhattan, saco de pancadas preferido do fim do mundo cinematográfico.

Essa “obrigatoriedade catastrófica”, só faz mais ainda com que toda trama se deixar levar por conclusões pobres e pouco criativas, como a da verdadeira razão da chegada de Klaatu e seu robô GORK (com seu nome agora rebaixado a uma sigla militar), na esfera gigante no meio do Central Park. A impressão que fica é de uma total falta de mensagem melhor (vai ver acharam que o mundo já tem paz demais), caindo de cara em uma “ecobabaquice” que não convence a ninguém.

Claramente em uma tentativa óbvia de se tornar atual e embarcar nessa nova onda mundial, acaba dando um tiro no pé, se tornando raso e quase sem sentido, já que, a tal sociedade ultra-avançada que manda Klaatu, poderia pensar em milhões de modos mais inteligentes de obrigar a humanidade a resolver seus problemas, do que simplesmente uma “obliteração total” (até porque, mas meia dúzia de “Gorks” e “Klaatus” fariam o que quisessem com nós humanos).

Enquanto moderniza toda trama, O Dia.. não pisa na bola em fazer de tudo para criar o cenário mais real e crível possível. Da NASA se preparando para a chegada, à toda comoção e medo que a humanidade acaba criando diante de uma suposta invasão, coisa que, por um lado, vai deixar o espectador mais a vontade com toda trama, mas  por outro, joga de lado toda fantasia simbólica que o filme poderia passar. Isso o transforma em algo muito menos sensível e muito mais visceral, coisa que acaba sendo bem-vinda no esquema preguiçoso dos blockbusters de hoje, que preferem só mostrar o que está na tela.

Mas sem dúvida nenhuma, o que acaba por mais incomodar na produção, são algumas decisões quase inexplicáveis que o roteiro acaba tomando. Como por exemplro, quando Klaatu muda de ideia sem uma aparente razão (a não ser que alguém realmente se convença que aquelas duas lágrimas sejam o suficiente), e o pior, desacreditando a secretária de defesa do Estados Unidos (desperdiçando totalmente a ótima Kathy Bates com isso) que enxerga uma invasão aparente, e que o roteiro parece tentar não deixar a ideia sobreviver. Lógico, até por que ela não teria razão nenhuma para desconfiar de tal coisa, a não ser pelo alienígena humanoide, que parece conseguir comandar toda tecnologia do mundo, e não faz questão de esconder esses poderes, atropelando policiais, explodindo helicópteros e mais um punhado de barbaridades, que chega do espaço, acompanhado de um robô gigante dotado de um raio que neutraliza qualquer coisa, sem esquecer de uma cacetada de esferas roubando espécimes de animais e levando para o espaço. Nada mesmo com que se preocupar, vai ver eles vieram para salvar a humanidade mesmo.

Se Kathy Bates é desperdiçada, por outro lado Keanu Reeves cai como uma luva no papel do alienígena sem expressão, Klaatu, criando um atuação sem emoção, gélida e estática, praticamente algo como uma anti-interpretação. No resto, Jennifer Connely parece não caber no papel, deixando a cientista “Nerd”, bonita demais e consequentemente irreal (o esteriótipo talvez seja maior que a relidade). Já Jadem Smith (filho de Will Smith) acaba criando a criança mais chata do cinema na última década, dando um caldo na irritante Dakota Fenning fugindo dos “tripods” na Guerra dos Mundos.

O Dia em que a Terra Parou até consegue passar despercebido como uma diversão sem maiores profundidades, mas parece se afundar por não conseguir desenvolver uma história e uma mensagens sutis, como seu original. Um filme que se perde em uma grandiosidade exagerada, que contrasta demais com a simplicidade do original e com a honestidade com que tratava do assunto, sem esquecer de sua mensagem pacifista, acabando por se perder na ausência desses três fatores, e principalmente, por tentar ser um blockbuster moderno e não uma refilmagem respeitosa de um clássico do cinema.


The Day the Earth Stood Still (EUA, 2008) escrito por David Scarpa, a partir do roteiro original de Edmund H. North, dirigido por  Scott Derrickson, com Keanu Reeves, Jennifer Connely, Jadem Smith, Cathy Bates e John Cleese.


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