O Duelo começa com uma boa premissa: o Comandante Vasco Moscoso de Aragão (Joaquim de Almeida), após a aposentadoria, decide viver na pequena cidade de Periperi. Lá, ele encanta a todos com suas histórias da época de navegações – todas muito elaboradas e algumas um tanto fantasiosas – que, desde o início, despertam dúvida no espectador. Dando voz a esse questionamento dentro do filme, Chico Pachedo (José Wilker), que perdeu seu posto de “celebridade local” para o Comandante, deixa claro que não acredita em uma palavra do marinheiro e toma como tarefa descobrir a verdade sobre o novato. É aí que está o suposto “duelo” que dá título ao filme, ainda que ele fique mais no plano de um tipo de birra tola.
É uma boa história, mas terrivelmente desenvolvida. O roteiro fraco foca demais nas histórias do Comandante e deixa a desejar no conflito que dá nome ao filme. Isso deixa o ritmo arrastado e quando finalmente surge uma reviravolta, a impressão é de que a maior parcela da narrativa já passou.
Por boa parte de O Duelo, Pacheco limita-se a maldizer Aragão para a cidade, utilizando uma mesma frase – que pretende ser um bordão cômico, mas que é apenas irritante – em diferentes momentos: “Comandante um(a) *insira aqui um palavrão”. Dói ver um ator como José Wilker, com ótimo timing cômico e perfeito para um personagem como Chico, subaproveitado desta maneira, confinado a uma mesma linha de texto.
Um dos maiores questionamentos que me vem à cabeça com o filme, porém, é: por que escolheram um ator português para um protagonista que, apesar de ser português, viveu a maior parte de sua vida no Brasil. Joaquim de Almeida, apesar de ser convincente como Comandante, frequentemente esquece da nacionalidade de seu personagem e em vez de ser um brasileiro com toques de português, é claramente um português tentando ser brasileiro. Mais preocupante do que os deslizes do ator, porém, é a falta de noção do diretor, que pensou que ninguém repararia um sotaque flutuante, que num plano é brasileiro, no posterior, português, para no próximo voltar ao brasileiro.
Há, entretanto, um grande trunfo em O Duelo: as cenas dos “causos” do Comandante. Conforme a história é narrada, os personagens do “causo” vão aparecendo, aos poucos, e a cena vai se transformando na ambientação contada pelo Comandante. O contador de histórias e os ouvintes acabam por acompanhar a cena como se fosse um teatro acontecendo ao seu redor. É nesses momentos que O Duelo mostra o que poderia ser e chega a dar uma dor no coração de pensar em como o filme deixa a desejar, considerando suas possibilidades.
Como disse o Vinicius Carlos Vieira em uma conversa que tivemos alguns minutos atrás, “falta carinho”. Falta um olhar mais cuidadoso para com o roteiro, com o elenco. Com o tratamento da história de uma maneira geral. Um filme com potencial, mas que prefere ficar só por aí mesmo.
Idem (Bra, 2014), escrito e dirigido por Marcos Jorge, à partir do livro de Jorge Amado, com José Wilker, Joaquim de Almeida, Patrícia Pillar, Cláudia Raia e Márcio Garcia