São poucas as coisas que podem dar errado em um filme do Homem Aranha. O personagem é divertido, seu inimigos quase sempre são interessantes, seu lado humano sempre o coloca próximo do espectador e os efeitos especiais atuais permitem uma veracidade enorme dos poderes e situações. Em resumo: todo mundo ama o Homem Aranha. Por isso é tão fácil que O Espetacular Homem Aranha 2: A Ameaça de Electro dê tão certo. Mesmo dando meio errado.
¿Tão certo¿, por que talvez mais do que nunca o personagem na tela é aquele que se consagrou nos quadrinhos, que não consegue manter a boca fechada e tem uma dificuldade enorme de manter sua vida civil longe da heroica. Marc Webb (que mais uma vez senta na cadeira de diretor) então foca seus esforços visuais em seu protagonista se balançando por Manhattan (com mais um monte de ângulos e movimentos diferentes), pulando de lugar em lugar, salvando os populares e irritando qualquer um a sua volta com seu senso de humor destrambelhando. Mais do que nunca esse Homem Aranha é o ¿amigão da vizinhança¿.
E junte a isso uma trama escrita por Alex Kurtzman e Robert Orci (dos dois Star Trek), em parceria com Jeff Pinkner (que trabalhou na série Lost) que abre possibilidades para algumas sequencias de ação enormes e você teria o exemplo definitivo do que fazer com o personagem. Mas ênfase no ¿Teria¿.
Nela (na trama), o Homem-Aranha/Peter Parker se vê às voltas não só com seus problemas amorosos com Gwen Stacy, como também mais descobertas sobre o passado de seus pais, o que leva seu caminho a cruzar com o de um antigo amigo, Harry Osborn, herdeiro da ¿famigerada¿ Oscorp. Enquanto isso, na mesma empresa, um funcionário qualquer (daqueles meio invisíveis e loser até o último fio de cabelo) sofre um acidente e se torna o Electro que, obviamente, acabará nutrindo uma antipatia fatal pelo herói e fará de tudo para matá-lo.
E dentro dessa sinopse talvez estejam todos defeitos e qualidades do filme. De um lado, tanto o apelo visual quanto as sequencias de ação que pontuam (demais) a trama. Uma enorme, divertida e eletrizante para cada ato (abusando divertidamente de slow motion e ¿bullet time¿) e fique contente por isso, principalmente pois o resto do tempo o trio de roteiristas erra muito mais do que acerta. E Webb vai no embalo.
Sem a máscara, Peter Parker é simplesmente chato. Andrew Garfield faz um ótimo trabalho no personagem, seus momentos com a Tia May de Sally Field funcionam (quase sempre engraçados) e sua parceira de cena Emma Stone (Gwen Stacy) ajuda na empatia. Mas assim como o filme começa pela história dos pais dele, em grande parte do tempo ele se vê às voltas com essa subtrama que não acrescenta nada e nem faz diferença alguma. Pode conferir, sem o pai dele e a tal prova que o coloca frente a frente com a Oscorp o filme só ganharia em agilidade. E o ponto alto disso (com um pequeno spoiler para ilustrar) é perceber que o tal vídeo explica que o único jeito do ex-sócio inescrupuloso e mal (Norman Osborn, que só faz uma participação) conseguir com que a fórmula dê certo é tirando sangue de seu filho, o que não parece ser a coisa mais inteligente a se fazer quando a ideia é protegê-lo e não criar uma caçada.
E saindo dos spoilers, o trio de roteiristas então não esconde a vontade de criar um universo conciso, cheio de possibilidades. Mas em se tratando de um personagem tão fácil, a simplicidade sempre foi o caminho mais interessante. Isso fica claro em momentos como o arco do próprio vilão Electro, que, é verdade, é ajudado por uma acertadíssima composição de Jamie Foxx, mas mais do que isso, pela facilidade de entender como nasce sua admiração pelo herói, como isso se transforma em uma obsessão e depois evolui para o ódio. Sem passado, conspiração ou trama mais complexa, só um ¿bom e velho¿ vilão para um ¿bom e velho¿ herói.
E nesse esforço de complicar, ainda encontram tempo para forçar uma crise entre o casal principal e um momento completamente desnecessário no final envolvendo uma montagem paralela e um avião (que ninguém envolvido na ¿grande luta¿ nem sabe existir). Como se uma Manhattan sem energia já não fosse problema suficiente para mover o herói (e isso foi um pequeno spoiler!).
Esses tropeços se juntam então a uma trilha sonora horrorosa, tentando ditar todo e qualquer sentimento de quem estiver dentro do cinema; um punhado de passagens de tempo complicadas que obrigam o espectador a pensar se entre uma cena e outra passaram dias, horas ou minutos (Tempo para decidir uma viagem ou para trocar de roupa? Para arrumar um uniforme de vilão ou atravessar a cidade?) e, por fim, mas não menos importante, uma aparente obrigação de deixar pontas soltas para uma sequencia. Tudo impedindo A Ameaça de Electro de alçar voos muito mais altos.
O que seria fácil diante das expectativas baixas criadas pelo primeiro e ainda pela coragem que esse demonstra ter em calar o cinema com a resposta para aquela pergunta que todos fizeram desde que Gwen Stacy deu as caras no filme anterior (e isso pode ser um spoiler… se é que você, nerd, me entende!). Felizmente, o filme acaba com uma sequência tão frenética e empolgante como à que o abre a história, o que fará todos no cinema acreditarem o que vem pela frente pode ser ainda melhor.
¿The Amazing Spider man 2¿ (EUA, 2014), escrito por Jeff Pinker, Alex Kurtzman e Robert Orci, dirigido por Marc Webb, com Andrew Garfield, Emma Stone, Jamie Foxx, Dane DeHaan, Paul Giamatti e Sally Field
2 Comentários. Deixe novo
Eu gostei da direcção e da sequência e explicações do primeiro filme. Espero gostar deste também. Para mim 1000 vezes de uma categoria superior a qualquer um dos três encabeçados pelo Maguire.
Eu achei esse tão bom quanto o Homem-Aranha 2 da primeira trilogia. Caminhou bem entre o humor típico do personagem e o drama, ótimas cenas de ação, e a Gwen muito melhor trabalhada do que no primeiro filme (o que só tornou *aquela* cena ainda mais triste). Mas fiquei com a impressão de que o Duende Verde só foi incluído por causa dessa tal cena, porque ele foi bem pouco desenvolvido. A situação com os aviões foi mesmo completamente desnecessária e, com exceção da passagem de tempo do final, o filme não estabeleceu direito em quanto tempo passou sua ação — do nada o Peter e a Gwen já estavam separados há um mês… Mas o resultado final foi muito eficiente e divertido.