O Natal do Bruno Aleixo | Revendo velhos amigos

Bruno Aleixo já se tornou um amigo querido que eu encontro apenas esporadicamente em alguma nova Mostra de São Paulo — depois de O Filme do Bruno Aleixo na edição de 2019, o personagem português volta agora em 2022 com O Natal do Bruno Aleixo, uma releitura do clássico de Charles Dickens que envolve um médico invisível, brigas familiares e robôs enfermeiros, além dos bizarros e carismáticos personagens que conhecemos no filme anterior da figura criada por João Moreira e Pedro Santo.

Dezembro de 2022. Uma semana antes do Natal. Bruno Aleixo está no banco do carona no carro de seu amigo, o pré-histórico Homem do Bussaco, que dirige. No meio de uma discussão sobre se o carro está ou não adequado para ser conduzido, um caminhão colide contra eles, ferindo levemente o motorista, mas colocando Bruno em uma coma.

Porém, já no hospital, o médico (um homem que tem uma doença que foi deixando-o invisível ao longo dos anos e, agora, já atingiu 100%) e o psicólogo de Bruno logo percebem que não há nenhuma razão física para que ele esteja em coma — o estado da criatura, um ser animado parecido com um Ewok, é de cunho psicológico. Como eles sabem que Bruno detesta o Natal, a razão pode estar aí. Os profissionais decidem, então, chamar amigos do paciente para que cada um conte uma história de um Natal que passou com Bruno, na experiência de que as emoções fortes despertadas pela lembrança sejam o suficiente para despertá-lo.

É o gancho perfeito para acompanharmos para trazer à tona os “fantasmas do Natal passado”: a história concebida por João Moreira e Pedro Santo leva em consideração os fatos ocorridos em nosso próprio mundo como a pandemia de Covid-19, fazendo com que o hospital tenha o protocolo de não permitir mais de um visitante por vez. Assim, cada um vem, conta sua história de Natal, e vai embora para que o visitante seguinte possa fazer o mesmo.

O Filme do Bruno Aleixo já era bastante episódico, acompanhando esquete atrás de esquete enquanto o protagonista e seus amigos (grupo que, além do Homem do Bussaco, inclui também O Busto — um busto de Napoleão Bonaparte — e Renato, que é o Monstro da Lagoa Negra personificado) tentavam escrever um filme sobre ele, uma obra apenas semi biográfica, porque “ninguém tem nada a ver com o que eu faço ou deixo de fazer”. 

Porém, mesmo nos mostrando diversas ocasiões na história de Bruno — Natais na infância, incluindo um que ele passou na casa de sua avó brasileira; um Natal caótico ao lado de sua ex-esposa e da família do médico, que inclui um tio que, para fugir da doença da invisibilidade, fez uma cirurgia clandestina que o deixou desfocado; o Natal do presente, que Bruno iria passar ao lado dos amigos; e assim por diante — O Natal do Bruno Aleixo consegue amarrar muito bem todas as suas partes, criando uma narrativa coesa que insere muito bem suas piadas, os estilos de animação diferentes em cada lembrança, os hilários closes nas expressões faciais dos personagens e as figuras inesperadas que habitam o longa.

Com isso, o filme se mostra ainda mais engraçado e divertido do que seu antecessor. O universo nonsense de Bruno Aleixo faz com que seja preciso apenas um frame ou uma frase casuais — como quando ele conta sobre quando importou o jogo do bicho para Portugal, em uma versão com signos no lugar dos bichos —  para fazer rir. Saí da sessão esperando que, em alguma próxima edição da Mostra, tenhamos mais um encontro com Bruno Aleixo.


“O Natal do Bruno Aleixo” (Portugal, 2022), escrito e dirigido por João Moreira e Pedro Santo; com João Moreira, Pedro Santo, Carlos Vidal, Henrique Guerra, Cleia Almeida, João Lemos, Névia Vitorino, Melissa Garcia e Carla Maciel.


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