É difícil entender as decisões de O Pálido Olho Azul, novo filme de Scott Cooper, um diretor que parece marcar sua carreira só por ótimas decisões. Não que elas não estejam no filme, mas talvez elas estejam lá soterradas pelas ruins.
O filme é escrito pelo mesmo Cooper a partir do livro de Louis Bayard, portanto a ideia mais ruim nem é do diretor. O que leva a crer que tenha no meio disso tudo uma grande quantidade de decisões ruins na realização do filme, principalmente em seu tamanho.
O Pálido Olho Azul é uma produção da Netflix daquelas com muito dinheiro para ser um blockbuster que retém um monte de assinantes por mais um mês, afinal todo mundo gosta do Christian Bale, mas a culpa não é dele. Nem do designer de produção que cria um mundo tão visualmente rico e interessante que rouba a atenção do filme. E talvez aí esteja o problema.
A história começa em 1830, com um ex-policial conhecido por ter desvendado alguns casos bizarros e complexos, Augustus Landor (Christian Bale), chamado para West Point para investigar não a morte misteriosa de um de seus cadetes, mas um acontecimento esquisito que ocorreu com o defunto. Isso coloca Landor em rota de encontro com outro cadete que acaba ajudando-o na investigação, o jovem Edgar Alan Poe (Harry Melling).
E seria difícil se manter nesse caminho de tentar entender os maiores problemas de O Pálido Olho Azul sem ir de encontro a alguns spoilers. Principalmente, pois ao final de toda experiência o resultado da ideia é interessante, surpreendente, inteligente e até cheio de emoção, mas sobreposto de tanta coisa que luta pela atenção, que fica pequeno… pálido.
A investigação de Landor esbarra não só nas imposições estruturais de West Point, como em um segredo que se abre tanto que chega quase em uma seita secreta satanista, que por sua vez é bem menos complicado do que isso, mas ainda assim conversa com um antigo caçador de bruxas, uma doença terminal, sacrifícios e mais assassinatos. Tudo meio junto enquanto o espectador ainda é convencido a acompanhar a curiosidade de acompanhar o jovem Edgar Alan Poe e um visual realmente interessante. Resumindo, muita coisa para olhar, pouca coisa para achar.
Tudo luta com unhas e dentes para ser o melhor do filme, aquilo que poderá ser indicado como o detalhe que vale a pena ser indicado para os amigos. Junte a isso um Christian Bale sempre competente e com espaço para um personagem de características complexas e fortes, mas que precisa lidar sem dar risada de um Poe intencionalmente caricato. Afinal, se a ideia é colocar na tela um dos maiores escritores da história da literatura, que ele seja um destaque do filme, ainda que só acrescente ao filma mais uma camada de excessos.
Mas talvez o desastre pudesse até ser maior se Cooper não fosse um diretor tão objetivo. Por mais que tenha que conviver com um monte de agentes lutando pela atenção do filme, seu trabalho é conciso e consegue dar a atenção para tudo sem perder um fio da meada. Ao final, sua surpresa só não é perfeita e salva boa parte do filme, pois até o personagem de Poe aponta que tudo só deu certo graças a uma enorme e exagerada brincadeira do destino que permite tamanha coincidência que possibilita que a trama fique de pé. Mas tudo bem, é possível passar por cima dessa conveniência e aproveitar o filme.
De qualquer jeito, mesmo com os excessos, o resultado parece realmente caprichado e cumpre grande parte do que promete. Talvez o trio, Poe, Satã e a boa recriação de época desvie um pouco a atenção de uma boa ideia e deixe ela coadjuvante de toda experiência, mas ainda assim o resultado final de O Pálido Olho Azul irá agradar a bastante gente, desde que não criem muita expectativa.
“The Pale Blue Eye” (EUA, 2022); escrito e dirigido por Scott Cooper, a partir do livro de Luis Bayard; com Christian Bale, Harry Melling, Simon McBurney, Timothy Spall, Toby Jones, Harry Lawtey, Fred Hechinger, Charlotte Gainsburg, Lucy Boyton, Robert Duvall e Gillian Anderson.