*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
[dropcap]O[/dropcap] diretor palestino Elia Suleiman encontrou uma maneira divertida de mostrar ao mundo as diferenças da visão de um cineasta do resto de nós, mortais. Em O Paraíso Deve Ser Aqui ele próprio é o protagonista, vestido como costuma se vestir, e observando da varanda de sua casa as situações do dia-a-dia, mas que através de suas lentes saem muito mais atípicas do que estamos acostumados a interpretar.
A brincadeira segue uma dinâmica simples: vemos Elia observando algo à sua frente enquanto está sentado na calçada de uma cafeteria, ou em sua casa, ou no portão de sua casa ou, na segunda metade do longa, viajando por Paris e Nova York. Enquanto vemos o observador, nossa mente já se prepara não para o que ele está vendo, mas a forma que ele está vendo.
Pessoas nesse filme se comportam de maneira diferente do que há na realidade. Um homem na frente dos policiais toma um refrigerante e estilhaça a garrafa na parede. Enquanto isso, cinco guardas escoltam uma senha que se arrasta pela plataforma do metrô de Paris. E em Nova York, na companhia de Gael García Bernal fazendo ele mesmo, acompanhamos uma anedota sobre como um estúdio americano quer filmar a conquista espanhola com atores falando inglês. E, infelizmente, isso pode muito bem não ser mentira.
O Paraíso Deve Ser Aqui é uma visão peculiar e divertida da mente de um criador enquanto este vive situações do cotidiano, montadas com muito esmero. Cada cena é belíssima, um verdadeiro quadro, pincelado da realidade que a maioria de nós não enxerga. Mas está ali. Pelo menos vamos acreditar no diretor.
“It Must Be Heaven” (Fra/Qat/Ale/Can/Tur/Pal, 2019), escrito e dirigido por Elia Suleiman, com Gael García Bernal, Ali Suliman e Elia Suleiman.