Que Orson Welles era um gênio do cinema não se tem dúvidas, que Franz Kafka era um maluco (no bom sentido) também. Junte os dois, e o que resulta é O Processo, uma doidera megalomaniaca que dá um novo sentido à expressão: “kafkiana”.
No filme, Anthony Perkins é o Sr. K, que se descobre acusado de algo que não faz a mínima idéia do que seja, no resto é só um passeio insandecido por um labirinto onírico e um vórtice de insanidade. Assim mesmo tão incógnito como o que eu escrevi, um filme, e um livro, feitos para serem destrinchados em simbologias e metáforas que pipocam a cada lugar que o acusado pisa.
Welles, por sua vez, tem seu momento mais expressionista, sugando o cinema alemão do começo do século até o caroço, pintando mais ainda esse pesadelo que parece pular da tela com sua direção pesada, mas que parece deslizar a cada sequencia. Seus personagens quase esfregam a cara contra a câmera, linhas e mais linhas parecem criar um ponto de fulga concreto, fileiras de pessoas organizadas de um jeito sistemático compões cenários gigantescos em um mundo de sombras, tudo em um fascinate trabalho de direção de arte e fotografia.
O Processo não parece feito para ser visto e entendido, mas sim para ser sentido de dentro de suas entranhas.
PS: no dvd, um dos extras apresenta uma introdução ao filme usada na TV quando passou no Estados Unidos, digna das melhores risadas quando tenta “explicar” e “mastigar” toda trama, como se preparasse o público para o que vem à seguir. Genial se tivesse sido feito por algum grupo de humoristas. Triste por ter sido feito seriamente.
“The Trial” ( EUA, 1962) escrito e dirigido por Orson Welles, a partir da obra de Franz Kafka, com Anthoyn Perskins, Jeanne Mereau, Romy Schneider e Orson Welles
1 Comentário. Deixe novo
Muito atual esse filme! O juiz Moro teria se inspirado nessa obra kafkiana para condenar Lula???