Dark Universe

O que é Dark Universe? | Especial


E o pior é que a ideia é boa. Colocar alguns dos grandes monstros que povoaram o cinema e o imaginário coletivo há quase um século, todos no mesmo lugar para trocar tapa, socos, mordidas e maldições é uma possibilidade tão divertida que quase não pode ser deixada de lado. Talvez seja por isso que o tal Dark Universe tenha conseguido ser vendido tão facilmente, tanto para os acionistas da Universal, quanto para o público.

O problema é que esse esforço parece dar errado desde o começo de sua concepção, e não uma, mas duas vezes… na verdade, agora três, já que A Múmia é uma bagunça tão descoordenada e desinteressante que fica difícil acreditar que ela terá fôlego para continuar andando.

A segunda tentativa foi escondida para baixo do tapete com o fracasso Drácula: A História Nunca Contada, com Luke Evans na pele de um Vlad genérico qualquer e que mostrava que a história não tinha sido contada, pois ninguém tinha interesse em saber. O filme de 2014 custou 70 milhões, rendeu apenas 56 milhões nos Estados Unidos e 160 milhões no resto do mundo, praticamente um empate para a Universal.

Para quem não está acostumado com esses números, em Holywood, ainda que o “budget” (orçamento) seja fixo e na maioria do tempo divulgado, existem mais uma série de custos atrelados a ele e que não são computados, como marketing e distribuição, por exemplo. Por isso, em linhas gerais, se aponta que com três ou quatro vezes esse “budget” sendo tirado das bilheterias, o filme passa a ter algo parecido com lucro.

E falando em lucro, o que não faltava era isso para a Universal e seus “Monstros Clássicos”.

Onde Tudo Começou

A primeira tentativa de entrelaçar esse universo de monstros nasce, justamente, de um momento de sucesso que a Universal teve em mãos. “Um momento” não, na verdade algumas décadas muito bem vividas pelos famosos “Monstros Clássicos da Universal”.

A ideia era simples, pegar uma série de personagens de livros clássicos do gênero e leva-los para essa nova mania que tomava o mundo de assalto. Sim, estamos falando ainda da década de 20, com pouco mais de trinta anos de irmãos Lumiere e menos de duas décadas do ¿mágico¿ Georges Méliès ter criados os efeitos especiais.

Em 1923 e dois anos depois, Lon Chaney estrelou tanto O Corcunda de Notre Dame, quanto O Fantasma da Ópera. Daí surgia os Monstros da Universal. Entre a década de vinte e a de cinquenta, foram mais de 90 filmes que passeavam por esse conceito de gênero no estúdio, o que tornou cada filme desses ou um clássico vivo até hoje, ou o produto cult de uma época. Mas de qualquer jeito, a enorme maioria deles e de seus astros nunca mais foram esquecidos.

Dark Universe Fantasma da Ópera

Atores se tornavam lendas do gênero e diretores colocavam seus nomes na história, todos enquanto pulavam de filmes para filmes e personagens para personagens. E não é exagero dizer nada disso, principalmente, pois quase um século depois, suas imagens continuam atuais e conhecidas por todos.

Bela Lugosi é praticamente o Drácula (1931) que nove entre dez pessoas imagina quando fecha os olhos, com o cabelo penteado para trás e a capa. Assim como Boris Karloff não só se tornou o Frankenstein definitivo (o monstro, não o doutor, também em 1931), como também a Múmia (1932) que todos se recordam.

Tudo bem que ninguém lembra muito do Claude Rains no papel principal de O Homem Invisivel(1933), afinal seria uma pena perder essa piada. Enquanto isso, todos se lembram de Lon Chaney Jr. (seguindo a tradição do pai) se transformando no lobisomem clássico filme de 1941.

Algum tempo depois, em 1954, esse sexteto clássico ficou completo com O Monstro da Lagoa Negra. Mas nesse momento, tudo já estava bem longe do começo clássico e empolgante.

Ainda que Lugosi tenha estrelado apenas um Drácula, o personagem ainda apareceu em mais cindo filmes diferentes. Já Karloff, enquanto participou apenas do primeiro A Múmia, ainda viu o personagem estrelar também mais cinco filmes. Por outro lado, o mesmo Karloff repetiu a cabeça costurada e os parafusos no pescoço de Frankenstein por quatro filmes.

Dark Universe Frankenstein

E se você acha que parava por aí, só o Homem Invisível estrelou cinco filmes e até o O Monstro da Lagoa Negra voltou mais duas vezes aos cinemas. E não se engane, só Chaney Jr. encarou os pelos do Lobisomem, as presas do Conde Drácula e até os parafusos do monstro de Frankestein. Enfim, era como se chegasse uma hora onde tudo parasse de fazer sentido.

Primeiros os personagens clássicos ganharam noivas (Noiva de Franeskestein, 1935), filhas (A Filha de Drácula, 1936) e filhos (O Filho de Frankestein, 1939), versões femininas (A Mulher Invisível, 1940), depois fantasmas (A Alma de Frankestein, 1942) e até se transformavam em agentes (O Espião Invisível, 1942). Isso sem contar que muitos desses já nem mais eram terrores.

Mas a bagunça começou mesmo quando eles passaram a se encontrar. Frankenstein Encontra o Lobisomem¿ em 1943 foi o primeiro, mas depois A Mansão de Frankenstein e O Retiro de Drácula misturavam todo mundo em um lugar só, com direito aos personagens títulos e ainda Lobisomens, cientistas loucos e até corcundas. Isso sem contar que os comediantes Abbott e Costello se encontraram com todos esses monstros clássicos e uma série de ¿às Voltas¿ com um, “No Egito” com outro etc..

E por mais que nesse momento estivesse nascendo e morrendo a primeira ideia de um “Dark Universe” (meio tudo ao mesmo tempo), a grande verdade é que até o último fio de criatividade que movia esses filmes era possível enxergar uma ponta de diversão. Seja a galhofa de Abbott e Costello, seja a simples vontade de colocar todo mundo junto em um filme só para o deleite dos fãs. O que nos leva a pensar: Que raios a Universal pretende fazer agora?

Dark Universe Frankenstein vs Lobisomem

Dark Universe

Por mais que a Universal já tenha feito isso algumas décadas atrás, é impossível não desconfiar que hoje ela está muito mais preocupada em copiar a Marvel do que beber na própria fonte. Mas assim como a Warner/DC tentou fazer e não conseguiu, por uma aparente falta de organização inicial, a Universal parece ainda mais atrapalhada.

E ainda que o nome de Alex Kurtzman surja como uma espécie de cola para todo esse universo, não só dirigindo A Múmia, mas surgindo como produtor de todos os outros filmes, a primeira pergunta que surge é: Que outros filmes?

Mesmo com Johnny Depp sendo anunciado como protagonista de O Homem Invisível e Javier Barden como Frankenstein (muito provavelmente o monstro, não seu criador), a Universal ainda promete remakes/reboots de Criatura da Lagoa Negra, Drácula, Fantasma da Ópera e O Corcunda de Notre Dame, sem contar uma nova versão de Van Helsing e, o único com data marcada, A Noiva de Frankenstein.

E aí está outro problema, A Noiva de Frankenstein só está marcado para estrear em 2019 (dirigido por Bill Condon, dos últimos “Crepúsculos”), o que nos leva a pensar se alguém ainda estará interessado em Dark Universe daqui a dois anos.

E o que falar da tentativa de ter no papel principal ou Angelina Jolie ou Jennifer Lawrence? Como uma personagem pode ter vinte e poucos anos ou quase cinquenta? Uma sensação de que nada está pronto e nem perto de estar sendo pensado, somente um monte de nomes amontados para chamar a atenção do público (e dos acionistas da Universal).

Dark Universe Elenco

No próprio site oficial do Dark Universe, eles próprios apontam essa iniciativa da Universal como “uma ideia de reimaginar personagens clássicos, respeitando o legado enquanto trazem eles para novas e modernas aventuras”. Isso mesmo, enquanto eles próprios citam “personagens clássicos”, acabam não dando a mínima para o gênero e pensam somente em “modernas aventuras”.

A ao analisar esse novo A Múmia, a impressão que fica é de um esforço para desconstruir seus personagens, focar seus esforços em uma correria qualquer e ligar tudo através de um “clubinho que caça monstros” liderado por um deslocado Dr. Henry Jeckyll (ou Mr. Hide) vivido por um Russel Crowe que não empolga ninguém.

Quem viu o filme sabe muito bem, esperar que algum tipo de múmia dê as caras daqui para frente seria quase impensável, sobrando para Tom Cruise ter se tornando uma espécie de super-herói qualquer que irá… irá… ninguém sabe, ninguém tem ideia e nem tem intenção de ficar muito preocupado com isso por um bom tempo.

O pior é que a ideia não só é boa, como é muito boa. Com todas capacidade técnicas que o cinema propicia nos dias de hoje, ver àquela Múmia clássica saindo no tapa com Frankenstein ou com Drácula, Van Helsing ou um anti-herói invisível enfrentando todos, seria um sonho de criança (vá ler A Liga dos Cavaleiros Extraordinários de Alan Moore e você vai entender minha empolgação). Mas não parece que nada disso vá acontecer.

E como já é comum em Hollywood, é até bem provável que A Múmia sirva de inspiração para seguir mais um pouco esse rumo falido antes de perceber que poderia ter tomado uma caminho diferente (como a Warner/DC acabou de fazer).

A ideia é boa, mas não parece ele isso será aproveitado. Uma pena.

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