[dropcap]Q[/dropcap]uebra Nozes E Os Quatro Reinos tem cara de filme que inicia franquia. Inspirado no famoso balé de Tchaikovsky, que por sua vez se baseou em um conto do escritor E. T. A. Hoffmann, a essência da história foi totalmente modificada, estendida e esticada para propósitos de direção de arte e trilha sonora. Uma história que era sobre um soldadinho quebrador de nozes de repente vira uma espécie de versão em miniatura de Crônicas de Nárnia com direito a guerra, traição, perda e todo um conjunto dramático.
A história gira em torno da jovem Clara (Mackenzie Foy, a filha do casal mais adorado na Saga Crepúsculo) e sua busca pela chave que irá abrir o presente que a mãe, falecida, deixara para entregar aos seus filhos na véspera do Natal. O problema é que a chave faz parte de outro “presente”, do seu padrinho, que, localizado em um outro mundo, irá revelar uma espécie de fantasia real de sua mãe, que envolve quatro reinos que viviam em harmonia, mas que agora com um deles em guerra.
Se tratando de uma versão preguiçosa de crítica política onde as aparências enganam, sobre a relação complicada entre pai e filha após a morte da mãe e sobre o único soldado negro que guarda isolado a ponte para o reino em briga, O Quebra Nozes… tenta não se prender muito na história, que serve unicamente para impulsionar novas cenas onde se pode ver a real virtude do filme: uma direção de arte aliada ao digital que cria cenários riquíssimos em cores, luzes e estilo. A inspiração é a Rússia imperial e a trilha sonora de Tchaikovsky, usada com certa economia porque já se trata de uma música usada e abusada no decorrer de mais de um século. É um filme sobre um sonho, ainda que ele próprio também tenha um sonha: ser algo mais que apenas um filme.
Seu aspecto mais temático e menos narrativo prejudica o elenco. Em específico Keira Knightley e Helen Mirren, que possuem mais tempo de tela e que precisam criar alguma dinâmica em suas personagens para manter a história interessante. Os exageros na entonação de Knightley e a gentileza aliada à robustez de Mirren entregam boas atuações em um pacote feito meramente para entreter, e nada mais. Isso é frustrante, porque assim que as brilhantes ideias do design de arte se acabam, não sobra mais nada senão acompanhar o desfecho previsível e esquecível. E por mais impactante que seja o visual, ele é vazio de significado se não há história à altura.
Para as crianças mais jovens talvez tenebroso demais; para adolescente, chato e sem nada a oferecer; e para adultos, uma experiência visual incrível que não encontra uma história que permaneça 10 minutos após a projeção, O Quebra Nozes… é mais luz e menos ação. E ainda é tímido de usar uma trilha que virou patrimônio histórico e público do cinema e da TV.
Como um mini-bônus ele tem a oportunidade de mostrar rapidamente as impressionantes performances dos dançarinos profissionais Misty Copeland e Zachary Catazaro, mas mais uma vez, a que público isso se destina?
“The Nutcracker and the Four Realms” (EUA, 2018), escrito por Ashleigh Powell, dirigido por Lasse Hallström e Joe Johnston, com Mackenzie Foy, Keira Knightley, Morgan Freeman, Helen Mirren.