O Sequestro Filme

O Sequestro | Caminha pelos clichês sem tropeçar em nenhum deles


O Sequestro consegue caminhar por todos os clichês dos filmes do gênero sem tropeçar em nenhum deles. Na verdade ele parece que pisca para o espectador em alguns momentos, de tão óbvia a situação. É como se antes de acontecer algo imaginássemos: “aqui sempre acontece tal coisa”. E quando não acontece, eis a recompensa do filme.

Iniciando com uma sucessão de pequenos vídeos caseiros que retratam o nascimento e o crescimento do pequeno Frankie (o insuportavelmente mimado Sage Correa) até a idade de seis anos, quem veremos mais durante todo o filme é sua mãe (Halle Berry), que é uma garçonete divorciada que batalha todos os dias para conseguir ter algum tempo junto de seu filho. Quando ele é sequestrado no parque ela inicia uma perseguição sem fim da indefesa mãe em busca do filho.

Clichê, certo? Certo. Porém, as situações montadas pelo roteirista Knate Lee encaixam perfeitamente com a persona dramática de Berry e com a “frustração” dos clichês esperados e que não acontecem. Os cortes rápidos da edição dão não apenas a sensação de urgência, mas de desorientação de nossa heroína, e uma direção interessante nos mantém a todo momento pensando sob o ponto de vista de uma mãe desesperada tentando colocar sua cabeça no lugar falando consigo mesma e tentando achar a melhor solução para conseguir ter seu filho de volta.

Isso sem contar com uma trilha sonora efusiva, em alguns momentos exagerada, mas que consegue quase sempre dar o tom da narrativa. Quando a melhor saída seria simplesmente o silêncio, lá vem a trilha sonora de Federico Jusid (Neruda) mais uma vez. Um carro bate em uma árvore e temos um longuíssimo quadro estático que serviria de respiro para uma ação frenética que nunca para. Mas lá vem aquela trilha sonora mais uma vez. Não é que ela traduza a situação do momento; ela força isso. E ao forçar, o filme fica um pouquinho menos palatável, mais fantasioso, mais clichezão, embora a música, em alguns momentos, seja necessária e esperada. É um bom score, competente, o que se torna um dilema: usá-la sempre ou não usá-la. A passagem dos dois carros na ponte é magnífica. Já a já citada batida na árvore desnecessária. É um dilema que se resolve com um pouco mais de bom senso. Menos música da próxima vez.

O Sequestro Crítica

Mas este é um filme feito como enlatado, formatado para as massas, o que torna até a decisão de uma música pop nos créditos finais aceitável. Berry faz aqui uma persona genérica: a mãe que perdeu o filho e que precisa recuperá-lo custe o que custar. E ela o faz muito bem. Ela sua, chora, move seus braços e suas sobrancelhas. Há inclusive muitas “falas de efeito”. Como a clássica “irei conseguir meu filho de volta custe o que custar”. Não se lembra dessa no filme? Talvez seja impressão minha. Mas no lugar você deve ouvir algo parecido. Umas três ou quatro vezes. Ela quase olha para a câmera, para o espectador comum, que vai achar tudo aquilo demais (no bom sentido).

Preocupado excessivamente com enquadramentos, o diretor espanhol Luis Prieto compõe aqui um trabalho de decupagem ousado, que muitas vezes chama a atenção para si mesmo. Porém, estamos falando mais de um filme de ação do que um drama, e muitas vezes as jogadas de closes na tela funcionam. A noção de espaço do filme e a desorientação da personagem de Berry justificam um mise-en-scene tão caótico. Não é possível, por exemplo, acompanhar por muitos momentos ambos os carros em perseguição por mais de cinco segundos sem cortes, exceto nos merecidos respiros das cenas aéreas. O conceito-chave aqui de “mãe desesperada em busca do filho” funciona excessivamente bem, mesmo que não estejamos lidando com personagens multifacetados. São pessoas comuns em um acontecimento que tragicamente também é comum. O incomum aqui é a garra desta moça, que pensa rápido demais (para o nosso delírio).

Entregando mais do mesmo de uma maneira a tentar agradar massas e fãs de ação visceral, O Sequestro é uma sessão convincente, tensa e ritmada. Você até esquece que já viu isso ou aquilo tantas vezes no Cinema. A moral da história está faltando, porque talvez não tenha nenhuma. Mas como arrebatamento emocional, está tudo aí, para o deleite de quem curte um bom momento pipoca. E a manteiga por cima é a recompensa.


“Kidnap” (EUA, 2017), escrito por Knate Lee, dirigido por Luis Prieto, com Halle Berry, Sage Correa, Lew Temple e Jason George.


Trailer – O Sequestro

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