[dropcap]E[/dropcap]m O Silêncio da Cidade Branca, bizarros assassinatos voltam a acontecer vinte anos depois das últimas vítimas terem sido encontradas, justamente às vésperas da libertação do condenado, Tasio (Alex Brendemuhl).
O assassino, ao longo do encarceramento, criou um verdadeiro culto em sua volta pelas redes sociais e recebe a visita do detetive e “profiler” Unai (Javier Rey), recém reintegrado à polícia depois de um ano de licença por uma tragédia pessoal.
Com a relutante ajuda do condenado, Unai e sua parceira Esti (Aura Garrido), tentam tenazmente evitar novos assassinatos, mas o responsável está sempre um passo à frente. Os detetives então recebem o apoio da nova chefe do departamento, Alba (Belén Rueda) e buscam descobrir se as novas mortes são efetuadas pelo culto de Tasio, um imitador ou se prenderam o homem errado esse tempo todo.
Rocambolesco e baseado em livro de sucesso no país, o thriller espanhol não tem a menor vergonha de abraçar os clichês do gênero. E faz isso em um ritmo tão alucinante, que não dará tempo do espectador respirar. E faz isso de forma proposital, pois assim a gente não tem espaço para pensar e perceber o quanto a produção é um pastiche de Thomas Harris com Dan Brown.
D primeiro, Harris, seu protagonista brilhante e atormentado, o assassino coach e os detalhes bizarros da formas de matar, sem contar montagem dos corpos. De Brown, a pretensa erudição da trama e um pano de fundo religioso católico obscuro que se lambuza em teorias malucas conspiratórias.
Para terem uma noção, a identidade do assassino é revelada com menos de 45 minutos de O Silêncio da Cidade Branca, e tudo vira um jogo de gato e rato sem grande interesse, pois a motivação do criminoso é nula e o protagonista é um porre.
A seu favor, temos a ousadia natural européia, que sem grandes pretensões de bilheteria e atingir grandes públicos carrega na nudez, nos excessos estilísticos de fotografia e montagem, sem contar, é claro os personagens imperfeitos e trágicos.
Ainda à favor de O Silêncio da Cidade Branca está, justamente, imersão na cultura do País Basco, uma das nações que convivem dentro da Espanha moderna, culturalmente isolada com suas festas malucas e nomes sonoros.
Em suma, uma boa pedida, regular e que traz entretenimento de qualidade para o espectador que está enjoado de Hollywood.
“El Silencio de La Ciudad Blanca” (Spa, 2020), escrito por Roger Danès e Alfred Pérez Fargas, à partir do livro de Eva García Sáenz de Urturi, dirigido Daniel Calparsoro, com Belén Rueda, Javier Rey, Aura Garrido, Manolo Solo, Alex Brendemühl.