De vez em quando, O Último Caçador de Bruxas até parece que, apesar de seus efeitos digitais óbvios e do roteiro simples, irá nos apresentar a uma mitologia e a um mundo moderadamente interessantes em que bruxas e humanos comuns convivem. Mas essa sensação dura pouco: a verdade é que este é um filme que não se preocupa em construir uma identidade e, além disso, não sabe nem o que fazer com seus personagens.
A história começa há mais de oito séculos atrás, em um país indeterminado. Kaulder (Vin Diesel) é o líder de uma missão que pretende derrotar de uma vez por todas a Rainha Bruxa (Julie Engelbrecht) que, em seu ódio aos seres humanos que contaminam o mundo, lançou a Peste Negra com o objetivo de dizimar a população – duas das vítimas foram a esposa e a filha de Kaulder. Antes de morrer – ou melhor, de “morrer” -, porém, a Bruxa percebe o sofrimento de Kaulder e o amaldiçoa com a vida eterna, para que ele jamais se livre dos fantasmas da família. Agora, em Nova York, Kaulder trabalha ao lado de da organização Machado & Cruz e, com o auxílio de uma série de padres chamados de Dolans, cuida para que as bruxas ainda existentes não utilizem seus poderes para causar o mal aos seres humanos.
Até que o 36º Dolan (Michael Caine) é misteriosamente assassinado e Kaulder parte para descobrir quem é o culpado – e, ao lado da jovem bruxa Chloe (Rose Leslie) e do novo Dolan (Elijah Wood), acaba trazendo à tona um plano para tentar reviver a Rainha Bruxa.
O universo de O Último Caçador de Bruxas é repleto de objetos e nomes diferentes (e inúteis) para disfarçar o fato de que não é bem desenvolvido pelos três roteiristas, Cory Goodman, Matt Sazama e Burk Sharpless, ou pelo diretor, Breck Eisner. Bruxos e trouxas (o filme parece ter tanta vontade de usar essa palavra que nem se dá ao trabalho de inventar seu próprio termo para os humanos comuns) convivem pacificamente, e o trabalho de Kaulder não é de caçar, mas sim de policiar suas atividades, realizando uma ou outra investigação de vez em quando. Por outro lado, se a Machado & Cruz acha tão importante “caçar” as bruxas, por que Kaulder é o único a fazer isso? Sim, ele é imortal e experiente, mas não onipotente.
Vez ou outra trazendo exemplos interessantes de como a magia se integra ao nosso mundo – como a loja de cupcakes acrescidos de uma poção alucinógena ou a bruxa que construiu um império da moda através de poções e feitiços rejuvenescedores -, a produção desaponta em suas cenas de ação que, mesmo envolvendo um Vin Diesel imortal e poderosos feiticeiros, são sempre entediantes. A grande batalha final chega a repetir o mesmo cenário da missão que abre a história (a árvore da Bruxa Rainha), em mais um exemplo de como os realizadores não estão realmente interessados em desenvolver seu universo.
Se envolvesse personagens carismáticos, o longa até poderia, apesar de tudo, se mostrar divertido. Mas as tentativas de trazer um peso dramático à caracterização de Kaulder são falhas, já que os diversos diálogos declarando a solidão do herói e o suposto fato de que ele precisa encontrar alguém com quem dividir sua vida (incluindo a frase “você está vivo, mas não vive!”) jamais se refletem na interpretação de Vin Diesel e, portanto, o protagonista não parece nada além de satisfeitíssimo com seu estilo de vida solitário. Rose Leslie, por outro lado, consegue imprimir determinação a Chloe, mesmo que o roteiro não aproveite os grandes poderes da jovem bruxa. Michael Caine surge no piloto automático e, fechando o elenco principal, Elijah Wood não tem muito o que fazer mesmo que seu personagem seja importante à trama.
E por que Kaulder demorou tanto para empunhar sua espada de “ferro e fogo” na batalha inicial, se já sabia que aquele era o único jeito de derrotar a Rainha? E por que todos os soldados não tinham uma espada daquelas?! O Último Caçador de Bruxas falha em suas regras mais básicas do funcionamento de seu mundo ou, então, cria novas regras à vontade conforme as necessidades da trama.
Talvez, se se assumisse mais como uma fantasia despretensiosa e deixasse seus personagens se divertirem mais, O Último Caçador de Bruxas pudesse trazer 106 minutos de entretenimento eficiente. A realidade, porém, é um longa que, quando parece que vai chegar a algum lugar interessante, acaba com essa esperança no minuto seguinte.
“The Last Witch Hunter” (EUA, 2015), escrito por Burk Sharpless, Matt Sazama e Cory Goodman, dirigido por Breck Eisner, com Vin Diesel, Rose Leslie, Elijah Wood e Michael Caine