É quase uma máxima do cinema encontrar a “história real” por baixo das ideias e tramas que parecem mais desafiar a fina barreira entre o crível e o “incrível”. Urso do Pó Branco, novo filme de Elizabeth Banks é um desses casos e, mesmo com o “baseado em fatos reais”, fica difícil imaginar que uma história tão maluca seja verdade. Em parte é.
A parte do urso é verdade e ele esteve empalhado no Parque Nacional de Chattahooche, na Georgia, nos Estados Unidos. De acordo com a Wikipedia, a causa de sua morte foi “Overdose de Cocaína”, já que ingeriu 34 quilos da droga que foi arremessada por traficantes de um Cessna 404. Ainda na parte da verdade, o urso depois disso ficou amplamente conhecido como “Pablo Escobear”, “Cockey the Bear” e, lógico, “Cocaine Bear”, que acabou batizando o filme.
Mas o roteiro de Jimmy Warden vai ainda mais além para fazer jus a uma ideia estapafurdicamente real. O roteirista já tinha feito fãs de um outro gênero rirem do próprio em A Babá e agora faz o mesmo aqui. É impossível levar Urso do Pó Branco a sério e isso é, de longe, a melhor coisa do filme. Banks e Warden tem uma consciência tão grande disso que se permite até ser um bom filme de terror enquanto riem disso.
Enquanto o urso original tinha 34 quilos, esse do filme tem pelo menos quatro vezes esse peso e fica completamente doidão assim que entra em contato com tal “pó branco”. Enquanto isso, vários personagens quase aleatórios acabam cruzando o caminho do urso. E como os comerciais dos anos 90 com a Nacy Reagan e seus amigos apontam, drogas são perigosas e podem deixar os usuários agressivos, que é o caso do animal.
A premissa do filme então é simples, alguns personagens estão lá procurando a filha da personagem vivida por Keri Russel, outros são comparsas do traficante que perdeu a droga, outros só deram azar, mas todos irão ser atacados por esse urso gigante e cheiradaço. E a construção de Banks para chegar nisso é com muito bom humor, gore e algumas cenas que fingem se levar a sério no quesito terror. E tudo isso funciona.
Os personagens perambulam por essa floresta com diálogos que beiram a cara de pau e a falta de razão. E sempre que o urso surge ele traz uma grata surpresa. Seja por membros decepados, seja com cheirada de cocaína que fazem o espectador lembrar do quanto o filme quer mesmo é provocar algumas risadas.
A direção de Banks entende perfeitamente esse ritmo e foca toda sua ação em soluções velozes e que não perdem tempo com nada que não seja, ou uma piada, ou o urso atacando os personagens. E tudo fica ainda mais fácil diante de um elenco cheio de gente habilidosa e que entendem a ideia de não emprestarem seriedade nenhuma para nenhum personagem.
Talvez o ponto fraco de O Urso do Pó Branco seja, justamente, um terceiro ato que precisa “terminar as coisas”, caminhando para um desfecho um pouco mais sério e demorado do que deveria, com armas apontadas e frases de efeito e até umas lições de vida que não cabem no filme. Infelizmente essa parte é marcada também por ser um dos últimos trabalhos do recém-falecido Ray Liotta.
Mas tudo bem, o roteiro de Warden faz questão de juntar a isso uma espécie de epílogo que enfia goela abaixo dos espectadores mais algumas piadas para deixar todo mundo ir embora do filme com um riso na memória. E é, com certeza, esse o único objetivo de O Urso do Pó Branco, divertir.