Mais do que qualquer vilão, extraterrestre, robô em crise ou líder de sociedade utópica, quem mais destrói filmes de ficção científica é a falta de coragem em começar e acabar uma história como uma simples produção do gênero. Oblivion começa bem em sua ficção pós-apocalíptica futurista, mas acaba com mais sequencias de videogame do que mereceria.
Isso vem com a impressão que tanto o nome de Tom Cruise na ponta do elenco (sem contar a participação de Morgan Freeman) e do diretor Joseph Kosinski, vindo de do agitado (e desperdiçado) Tron: O Legado, obrigou Oblivion a ser mais que apenas um filme surpreendente, com uma reviravolta realmente interessante, uma premissa que deixa todos colados à cadeira do cinema e uma série de referências que temperam o filme com o melhor do gênero. Ele tinha que se vender para o público geral.
Uma combinação que tinha tudo para sair vitoriosa, mas acaba em uma perseguição voadora no meio de um vale, um barulhento ataque surpresa dos vilões e um final que se sente confortável emulando Independence Day, o que não é bom para filme nenhum e estraga até o mais promissor dos começos.
Nesse caso um em que Cruise é uma espécie de zelador do Planeta Terra, um responsável tanto por alguns droids redondos e voadores, quanto do pleno funcionamento de algumas enormes máquinas que sugam os mares (e são protegidas pelos droids). Esse é o cenário do mundo depois de uma guerra contra uma estranha e misteriosa raça alienígena que deixou tudo desértico e morto e fez com que toda humanidade se abrigasse em uma lua de Saturno (o mar é para uma espécie de mineração). Isso, sem contar absolutamente nada e estragar nenhuma surpresa, já que Oblivion não economiza nesse quesito e cresce diante de uma reviravolta extremamente interessante.
Um caminho que se abre, justamente, pelo cuidado com que o primeiro momento do filme é tratado, sem pressa e apostando em um cenário melancólico e instigante que garante a atenção de todo público em grande parte do filme. E ainda que Cruise não consiga dar conta da sutileza do personagem nesse momento, principalmente, pois não consegue impor mudanças significativas no protagonista mesmo depois de ter toda sua existência colocada em prova (permanecendo com o mesmo olhar que empregou nos quatro Missões Impossíveis), Oblivion se mantém interessante graças ao trabalho do roteiro escrito pelo próprio diretor (que também escreveu, com Arvid Nelson, a HQ que deu origem ao texto) em parceria com Karl Dadjusek (que recentemente escreveu Reféns) e Michael Arndt (ganhador do Oscar por Pequena Miss Sunshine e que também escreveu Toy Story 3).
Infelizmente, esse primeiro momento que busca referências a clássicos como 2001 – Uma Odisseia no Espaço, no recente Wall-e a até no jovem Lunar, acaba sendo suprimido por uma aparente obrigação de se tornar um filme de ação acéfalo e cheio de explosões, como se ele próprio não acreditasse no potencial de sua história. Pior ainda, perdendo a chance de ficar calado em grande parte da segunda parte do filme, com diálogos expositórios completamente deslocados (e repetitivos) e uma série enorme de explicações e resoluções que acabariam sendo muito mais poderosos se ficassem nas entrelinhas de uma história que, nesse caso, teria tudo para deixar aquele gostinho amargo e delicioso da dúvida.
Ninguém realmente queria saber claramente se Decard era ou não um replicante em Blade Runner, nem como era o interior da nave em Contatos Imediatos de 3° Grau, nem grande parte das explicações de Oblivion (e obviamente não estou comparando o filme com nenhum dos citados…). Um subterfúgio que, ainda que faça sentido, parece só estar ali para agradar um público que seria incapaz de engolir um filme estrelado por Tom Cruise sem um final extremamente mastigado, talvez por preguiça mental ou até por deficiência intelectual. Ambos problemas que adoram atrapalhar grandes produções que teriam fôlego para serem mais que blockbusters descartáveis.
A pena disso é que esse final descontroladamente inútil (principalmente ao perceber que não conseguiria acabar o filme sem Freeman explicar toda história) fecha um trabalho interessante do diretor e de um visual bacana (a lua destruída criando um cinturão é algo divertido demais) com um final avacalhado, uma frase de efeito completamente imbecil e uma explosão que destrói não só o vilão, mas o filme inteiro.
Oblivion, escrito por Joseph Kosinski e Arvid Nelson (HQ), Joseph Kosinski, Karl Gajdusek e Michael Arndt , dirigido por Joseph Kosinski , com Tom Cruise, Morgan Freeman, Olga Kurylenko, Andre Riseborough, Melissa Leo e Nikolaj Coster-Waldau