Onde os Fracos Não Tem Vez Filme

Onde Os Fracos Não Tem Vez | Uma obra-prima dos Coen

Se a corrida pelo Oscar© nos cinemas nacionais começou pelas beiradas, com o lançamento sem alarde do ótimo Conduta de Risco, agora é a hora das grandes pedidas. Na cabeça das indicações vem Onde os Fracos Não Tem Vez, franco favorito com suas oito indicações. E esse número não vem sem razão e os irmãos Ethan e Joel Coen assinarem um filme que não está sendo indicado por muitos como a grande obra-prima dos cineastas à toa. Onde os Fracos Não Tem Vez prende qualquer um na cadeira do cinema, provoca o espectador a encarar um filme difícil de engolir e ainda cria um burburinho delicioso no ascender das luzes.

Talvez essa “indigestão” venha da crueza com que os diretores fazem questão de apresentar esse faroeste moderno, nada de trilha sonora, nada de personagens fáceis e apenas uma trama difícil com um vasto deserto como pano de fundo.

E mesmo quando a areia não está presente, a impressão que se tem é que todo o resto parou para a história passar, para ver o veterano do Vietnã Llewelyn Moss (Josh Brolin) dar de cara com uma negociação de droga mal-sucedida e uma mala de dinheiro jogada em seu colo, que pode mudar sua vida por completo. Mas a sombra que toma a visão de Moss, enquanto ele mira um cervo, momentos antes de achar o dinheiro, é um prenúncio da escuridão que tomará sua vida, e essa sombra tem nome: Anton Chigurh.

Mesmo o espectador só descobrindo seu nome lá para o meio do filme, o assassino psicótico vivido pelo espanhol Javier Barden é a grande estrela da história e por isso mesmo, antes de qualquer coisa, você fica a vontade com essa figura no mínimo excêntrica, seu cabelo ao melhor estilo Beatles e sua “arma” de ar-comprimido, que, em quatro aparições na tela, simplesmente leva para o buraco quatro indivíduos, deixando até o Rambo com inveja.

Esse maluco é contratado para recuperar a mala (seus contratantes estão em uma das quatros cenas, obviamente), criando uma caçada violenta e que acaba, por conseqüência, colocando no meio disso tudo o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), último exemplar de uma época em que sua profissão não carregava nem arma e que não precisava lidar com massacres ligados a uma transação de drogas que deu errada.

Essas três pontas desse triângulo nem se cruzam na tela, apenas Moss e Chigurnh se esbarram em um tiroteio, mas quase não se vêem, e isso é umas das belezas da adaptação do livro de Cormac McCarthy: uma trama que se sustenta por ela em si e na mão dos irmãos Coen, ganha um tom de clássico.

Os diretores resolvem dissertar a respeito do silêncio e do vazio, seus personagens sempre entram pequenos em imensidões, seja de areia ou de corredores, todos são claramente menores e sozinhos em suas tramas, tentando sobreviver a cada segundo.

Nesse vazio, sem trilha sonora, onde você escuta o menor dos barulhos, e até o telefone tocando em uma recepção sem vida andares abaixo no hotel, a única vida que pulsa não é a do texano fugindo com sua mala de dinheiro, que se descobre em um beco sem saída e muito menos do xerife cansado, mas sim a do assassino metódico, com seus olhos úmidos e que parece ser o único sabendo o que tem que fazer para sair desse vórtice de insanidade.

Mas talvez, o maior prazer de se ver Onde os Fracos Não Tem Vez seja a angústia que os irmãos diretores (ainda roteiristas e editores) provocam na platéia, subjugam fórmulas quando privam, de uma platéia sedenta por um desfecho, tanto um tiroteio esperado, criando um suspense sem igual, como o próprio final em si, dando pano pra boas conversas depois da volta das luzes à sala.

Em outros anos, a tal estátua careca já teria donos, mas é bom lembrar que a famosa academia vem surpreendendo sempre que possível, e, juntando a isso um ano com um nível de produções altíssimo, vide o próprio “Conduta de Risco” e o drama “Desejo e Reparação”, que vem trazendo o Globo de Ouro, além do independente “Juno” (tipo de filme que vem se tornando obrigatório todo ano) e do celebrado “Sangue Negro”, único ainda inédito no Brasil e candidato à pedra em seu caminho, o filme dos irmãos Coen, sem medo de ser pedante, sai na frente com um daqueles filme que, quem não gostou é por que não entendeu.


“No Country for Old Men” (EUA, 2007) escrito e dirigido por Ethan Coen e Joel Coen a partir de um livro de Cormac McCarthy, com Josh Brolin, Tommy Lee Jones e Xavier Barden


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