Os mercenários | Dispensável

Muito provavelmente a tradução do título do novo filme de Sylvester Stallone para o português perca um pouco da força que ela poderia ter, com certeza “Dispensáveis” faria muito mais jus do que Os Mercenários, senão no contexto dos personagens, talvez pelo menos no sentido do filme, já que ele, no final das contas, é uma experiência daquelas que serão facilmente esquecidas.

Na trama, um grupo de mercenários, liderado pelo próprio Stallone, tem a missão de acabar com uma ditadura em alguma ilha esquecida de algum lugar ao sul da fronteira dos EUA e que fala espanhol. É lógico, que o tal trabalho acaba sendo um pouco mais complicado e eles tem que colocar à prova suas “concepções” de justiça, com uma donzela em perigo e tudo mais.

Sobre tudo isso, Stallone não esconde que sua verdadeira vontade é de fazer uma espécie de volta ao passado “glorioso” dos filmes de ação dos anos 80, doa a quem doer e, nesse caso, até que tudo vai bem, o que ele talvez tenha esquecido é que nem naquela época esse tipo de filme era bom. Algumas poucas boas produções desse tipo até atingiram seus objetivos e viraram sucesso, mas, sua esmagadora maioria se perdeu no limbo das sessões de domingo a noite na TV, que é onde, muito provavelmente, Os Mercenários iriam parar.

Stallone faz um filme exagerado e cheio de testosterona, mas esquece de lembrar o quanto o gênero hoje é tido como piada, com seus ditadores maldosos, seus exércitos despreparados prontos para virarem pilhas de corpos e seus guarda-costas brutamontes colocados no caminho para atrapalharem aquele ultimo passo do herói antes de chegar ao vilão. Ao se levar a sério demais Os Mercenários perde a oportunidade de homenagear esse cinema, preferindo emulá-lo de um jeito sem muita emoção.

E ainda que em alguns momentos fique fácil perceber essa veia meio caótica no roteiro de Stallone e Dave Callaham, em grande parte do filme ela fica esquecido demais. Tanto o celular do personagem de Statham tocando no começo, quanto a conversa que Jet Li tem com Stallone dentro do carro, sobre ele ter que receber mais que os outros pelo seu tamanho (assim com o delicioso diálogo entre Stallone, Schwarzenegger e Bruce Willis), mostram que talvez houvesse essa vontade de jogar para cima algumas dessas convenções, mas tudo termina por aí.

No resto do tempo, Stallone faz questão de discutir, cheio de melancolia, o lado dramático de ser um herói de ação dos anos 80, que não consegue fazer “esse trabalho” e ainda ter uma relação concreta (como o personagem de Statham), ou que se arrepende de não ter conseguido salvar uma única vida que talvez lhe tivesse feito a diferença (no emocionante monólogo de Mickey Rourke). E até parece preso nessa necessidade dramática, e narrativa, de ter um último momento de herói antes de ser esquecido (a decisão de voltar para salvar a personagem de Gisele Itié), exatamente como o gênero. Bem verdade, um tom um pouco pesado demais que carrega o filme para uma certa depressão exagerada.

Porém, todo esse desequilíbrio pode ser facilmente mascarado pelo monte de nomes conhecidos que estrelam o filme e que, se não acabam sendo uma adição “técnica”, pelo menos é uma totalmente divertida. Por mais que Stallone demore um pouco demais para desenvolver suas personalidades, esse monte de caras conhecidas (principalmente para o público masculino consumidor de filmes de ação, luta livre e MMA) deixa fácil a aproximação do espectador com eles. Cada um ali parece saído de alguma produção ruim de ação e mesmo assim é tratado como uma estrela do gênero, com seu momento solo e suas desculpas esfarrapadas para uma demonstração de sua “habilidade” (como Stathan na quadra de basquete, ou Terry Crews e sua arma que explode tudo). E é preciso louvar Stallone por ter conseguido arrancar de Dolph Lundgren, o que talvez seja a maior interpretação de sua vida, ainda que ruim de doer, mas pelo menos com um jeito sincero.

E em um certo momento, a câmera mostra Stallone ligando o piloto automático do avião, talvez tentando contar ao seu espectador que aquele botão já estava ligado a um tempão, já que Os Mercenários é narrativamente pobre e repleto de defeitos, mesmo com lutas bem coreografadas, muitas explosões, tiros e uma falta total de vergonha na cara que vai agradar aos fãs do gênero. Para o resto do público, talvez sobre um pouco de diversão quando o eterno Rambo decide dar a mínima a tudo em sua volta e metralhar o mundo, pelo menos fazendo aquilo que sempre gostou de fazer: empilhar corpos e colecionar machucados.


The Expendables” (EUA, 2010); escrito por Sylvester Stallone e Dave Callaham; dirigido por Sylvester Stallone; com Sylvester Stallone, Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgren, Erico Roberts, Randy Coulture, Steve Austin, David Zayas, Giselle Etié, Terry Crews e Mickey Rourke.


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