Seria pretensão demais esperar algo de Os Mercenários 3 maior, melhor e mais divertido do que o resultado de Os Mercenários 3. É lógico que grande parte do roteiro é óbvio, as atuações são pasteurizadas e as cenas de ação são exageradas, mas também é lógico que ninguém entrará na sala de cinema esperando mais do que isso.
Mais do que uma sequencia inicial envolvendo um trem, uma metralhadora enorme e um salvamento usando um helicóptero. O refém é um velho parceiro de Barney Ross (Stallone), “Doc” (Wesley Snipes), que na verdade é um dos “mercenários” originais. Mas isso vem pouco ao caso, já que Doc é resgatado, mas antes usa o próprio trem para perpetuar sua vingança. Simples, grosso e divertido.
No resto do tempo, o fiapo de roteiro escrito pelo próprio Stallone em parceria com a dupla que “invadiu a Casa Branca”, Katrin Benedikt e Creighton Rothenberger, diz respeito ao encontro dos atuais Mercenários com mais uma figura do passado de Ross, o “cara mal” Stonebanks (Mel Gibson), traficante de armas e que devia estar morto. É lógico que desse primeiro confronto surge uma rusga maior ainda e que obriga Ross a procurar novos parceiros para uma missão mais suicida ainda. Hora de novos mercenários!
Ok, você já sabe onde isso vai chegar logo de cara: os novatos levarão a pior e as únicas pessoas que poderão salvar o dia são exatamente os “bons e velhos” brucutus, com suas armas enormes, frases de efeito, pés na portas e contagem de corpos estratosférica. E do mesmo jeito que o roteiro sabe disso, o diretor Patrick Hughes também, então o melhor mesmo é relaxar o cérebro e curtir a pancadaria.
E isso, principalmente, por que a disputa entre gerações não dá “nem para o cheiro”. Sem a menor preocupação em desenvolver com mais de uma sequencia nenhum dos recrutas, fica óbvio durante todo o tempo que será impossível criar qualquer afinidade com o grupo formado por um ex-Crepúsculo (Kellan Lutz), um total desconhecido (Glen Powell) e os lutadores Ronda Rousey (mma) e Victor Ortiz (boxe). Então não se surpreenda enquanto o diretor preferir mostrar Jason Stathan, Dolph Lundgren, Wesley Snipes e Randy Couture vendo TV do que apostar nos novatos.
Porém, nesse mar de atuações canhestras (e divertidas, justamente por isso!), destaque único para a presença de um Antônio Banderas que, na maioria do tempo, acaba sendo o mais inesperadamente interessante do filme. E não só por ser o único do elenco a ter um personagem, mas também por aproveitar cada momento dele para criar uma “latinidade” que apimenta a série de situações quase sempre pragmáticas e objetivas demais (um grupo tendo que matar um outro grupo e só). Banderas tira qualquer possibilidade de marasmo que poderia atingir Mercenários 3.
Um cansaço que resvala naquela fórmula que todos sabem que irão encontrar, e ainda que venha com toda cara-de-pau de soterrá-la lá no fundo de toda a ação ela ainda está lá. É fácil então dar risada até do monte de diálogo expositivos, ou de descobrir que Bruce Willis está “out of the picture”, mas sob tudo isso ter a mais enorme certeza de tudo que vai acontecer, não ajuda.
Pelo menos Os Mercenários 3 também sabe disso, na verdade ri disso e de todos seus clichês, assim como sabe que precisa de muito pouco para fazer sentido e deixar todo o cinema empolgado com Harrison Ford pilotando um helicóptero e salvado o dia de Luk… quer dizer Barney Ross e seu grupo. Uma sequencia que ainda envolve um número incontável de soldados de uma país fictício qualquer, todos tombando um a um (ou aos grupos em algumas explosões), exatamente daquele jeito que seus astros vem fazendo há décadas.
E ainda que por um segundo tente discutir o “old school” versus a “sutileza moderna” (“Seria um grande plano se fosse em 1985”), no final das contas o espectador que sai ganhando é aquele que vai em busca dos brucutus, do exagero, das frases de efeito (“Eu sou Haia!”) e da certeza de uma baita homenagem aos filmes que fizeram tão bem para a juventude de tanta gente.
“The Expendables 3” (EUA, 2014), escrito por Sylvester Stallone, Creighton Rothenberger e Katrin Benedickt, dirigido por Patrick Hughes, com Sylvester Stallone, Jason Statham, Harrison Ford, Arnold Schwarzenegger, Mel Gibson, Wesley Snipes, Dolph Lundgren, Randy Douture, Kelsey Grammer, Glen Powell, Antonio Banderas, Victor Ortiz, Ronda Rousey, Kellan Lutz e Terry Crews.