Os Observadores | Tal pai, tal filha… azar o seu

Uma floresta na Irlanda que não aparece em nenhum mapa. Um jovem que tem um emprego ruim em uma loja de animais. Um trauma. Umas criaturas misteriosas. Mais alguns personagens para a jovem poder conversar. Por fim, uma surpresa que chega tarde demais e ninguém está mais interessado nela. Os Observadores é um cemitério de ideias.

O filme também é a estreia de Ishana Shyamalan na direção. Pelo nome, sim, ela é filha do M. Night. Pelo resultado do filme, ela nem sequer viu os filmes do pai que funcionavam, afinal, ainda não era nascida, então não veria “filmes velhos”.

Bem verdade ela nasceu depois de Corpo Fechado (2000), o que quer dizer que ainda era pequena para ter visto Sinais (2002) e A Vila (2004). Talvez por isso conheça o pai como um diretor meio picareta que fica forçando uma surpresa final e não sabe lidar muito bem com os antagonistas de seus heróis. Que é mais ou menos tudo que ela faz em Os Observadores.

Mas a ideia não vem da Shyamalan e sim do autor irlandês A.M. Shine, escritor do livro que deu origem ao filme. Ao que tudo indica, um livro soturno, tenso, com umas surpresas e com uma certa profundidade, mas como dizem por aí: laranjas e maçãs. O resultado transportado para as telas é precário, simplista e pobre de significado até entrar no terceiro ato para solucionar tudo “com estilo”. Meio com cara de surpresa, mas tão depois do final do filme e tão sem nenhum tipo de dica que mais parece uma solução caída do céu para satisfazer as intenções do roteiro de discutir o luto.

Se fosse um pouco mais maduro, Os Observadores seria uma metáfora mais potente sobre esse sentimento de perda e a necessidade de seguir em frente ou se transformar diante dessa quebra do passado que dita o futuro. Mina (Dakota Fanning) se afastou da família e perambula pelas noites fingindo ser outra pessoa para satisfazer esse sentimento de culpa que ela carrega pela morte da mãe. Lá para o final, outra personagem faz mais ou menos o mesmo, mas envolvendo um tom de folclore e mitologia da região. Mas é tão pouco que soa preguiçoso e corrido.

Mina se perde na floresta enquanto ela estava levando um papagaio vendido para um zoológico. É perseguida por umas vozes esquisitas e misteriosas e só se salva por encontrar uma espécie de casa com mais três sobreviventes. A questão é que a casa tem um de seus lados formado por um vidro/espelho e todas as noites os (agora) quatro habitantes do lugar precisam ficar sendo eles mesmos enquanto as misteriosas criaturas apenas os observam.

É lógico que o clima inicial e o suspense que é criado, com um monte de perguntas e dúvidas. Infelizmente, aos poucos isso vai se tornando maior do que qualquer resposta possível (puxou isso do pai!). Por isso, quando o espectador perceber, já está sendo enganado por diálogos expositivos chatinhos, explicações que ninguém se interessa e CGI demais. É impressionantemente frustrante um filme que começa com tamanho suspense acabar com uma perseguição desses sobreviventes fugindo de algumas criaturas criadas por computador e sem muita criatividade.

E durante todo esse tempo antes dessa resolução ruim, pouco se toca nas camadas que poderiam estar por trás das intenções das ideias que estão na tela. Não existe nada por trás das motivações de ninguém… até haver.

O próprio trabalho da diretora se sabota diante dessa falta de significado. Ao criar o suspense e o clima com uma direção certeira, Shyamalan demora demais para mostrar um pouco mais o apenas o suficiente para o espectador construir a criatura (e se manter interessado). De uma hora para a outra, ela mesmo traz as criaturas para a luz e acaba com o interesse visual, já que elas, mesmo sendo criaturas mitológicas relativamente famosas, parecem saídas de absolutamente qualquer filme de terror genérico.

Talvez falte para Shyamalan acreditar em seu próprio filme e no quanto ele poderia se permitir ser mais sobre perguntas do que respostas. É incrível ver um filme onde os personagens se comunicam com seus “raptores” através do espelho em nenhum momento ver essa metáfora, do reflexo, ser usada. Os personagens praticamente não olham para o espelho como se enxergassem a si mesmos ou seus traumas e medos, apenas aceitam passivamente que são observados. Até, convenientemente, o roteiro lhes dizer que é hora disso mudar.

Mina não aprende a ser uma melhor pessoa durante o filme, deixa isso apenas para os últimos minutos de filme, enquanto convence sua antagonista na base da conversa e tem essa epifania que a livra do luto. Como se entendesse que não precisa esquecer seu luto e sua mãe, mas sim precisa colocá-la em um local onde ela sempre estará lá e servirá de inspiração para uma nova vida menos dolorosa. Ishana Shyamalan também não deve esquecer do pai, mas poderia pelo menos olhar para o melhor momentos da carreira dele e não para seus filmes mais recentes (e ruins).


“The Watchers” (Irl/EUA, 2024); escrito e dirigido por Ishana Shyamalan, a partir do livro de A.M. Shine; com Dakota Fanning, Georgina Campbell, Olwen Fouéré, Oliver Finnegan, Alistair Brammer e John Lynch.


Trailer do Filme – Os Observadores

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