Os Parças claramente conta com os nomes de seu elenco, formado por “grandes” comediantes brasileiros, para atrair o público para o cinema. Bom, quem comprar seu ingresso ansioso para ver os trabalhos de Whindersson Nunes e Tirullipa provavelmente não sairá decepcionado. Mas a vergonha alheia é o principal sentimento que esta dolorosa produção é capaz de causar, já que praticamente todos os diálogos, personagens e situações são embaraçosos.
Mário (Oscar Magrini) e Romeu (Bruno de Luca) acabam de abrir uma agência de casamentos no centro de São Paulo. No exato segundo em que colocam o site da “empresa” no ar ¿ literalmente ¿, o primeiro cliente aparece: Vacário (Taumaturgo Ferreira), o mafioso “rei da 25 de Março”, procura alguém capaz de organizar uma cerimônia perfeita para sua filha, Cintia (Paloma Bernardi). Após fazerem essa promessa que não tem esperança alguma de cumprir, Mário e Romeu acabam ajudando Toinho (Tom Cavalcante), locutor de uma loja na 25 de Março, e os muambeiros Ray Van (Whindersson Nunes) e Pirôla (Tirullipa) a escapar da polícia. Para tanto, o trio aceita ajudá-los a planejar o casamento de Cintia, já que nenhum deles quer enfrentar o perigoso Vacário.
A partir daí, o grupo de comediantes se meterá em muitas confusões, enrascadas e aventuras!!! Oscar Magrini dá o fora logo, livrando-se assim do desastre que se intensifica a cada segundo de projeção. Sobram Cavalcanti, Tirullipa, Nunes e de Luca. Cavalcanti e de Luca são os únicos cujos personagens têm algo que possa assemelhar-se minimamente a uma personalidade, o que não quer dizer muita coisa, já que são personalidades insuportáveis, especialmente em relação a Romeu. Enquanto isso, Whindersson Nunes e Tirullipa apenas fazem caretas e repetem as mesmas piadas, além de não demostrarem um pingo de carisma em cena.
Considerando que Os Parças é fortememente caucado na enganação e na trapaça, cineastas mais talentosos poderiam ter aproveitado melhor uma figura como Toinho; aqui, ele limita-se a diálogos embaraçosos e baseados principalmente na imitação de outros personagens e celebridades. Enquanto isso, Romeu é o “straight man” do grupo ¿ o homem certinho e regular em meio ao humor “excêntrico” e “absurdo” dos demais ¿, o que, aqui, significa que ele passa suas cenas assediando sexualmente Cintia, por quem ele se “apaixona”.
Pois é: para o diretor Halder Gomes e o roteirista Cláudio Torres Gonzaga, entrar por debaixo do vestido de uma mulher ou vê-la se trocando sem a permissão dela são situações extremamente românticas. Além disso, o fato de que Cíntia, por algum motivo, decide corresponder ao “amor”de Romeu é algo que só poderia ser fruto da imaginação de cineastas masculinos, que adoram unir um homem patético e medíocre a uma mulher belíssima como forma de massagearem seus próprios egos.
Em termos de humor, a única cena que não me fez revirar os olhos foi quando Bruno de Luca se entrega a uma série de piadas estereotipadas sobre nordestinos e, em vez de rir com ele, o longa deixa que Nunes e Tirullipa ¿ nascidos, respectivamente, no Piauí e no Ceará ¿ rebatam e demonstrem a ignorância daqueles comentários. Diante de tudo o que a cerca, a cena parece pertencer a outra produção.
A sequência de abertura até que consegue ser eficiente em seu objetivo de estabelecer a energia, o movimento intenso e o dinamismo de São Paulo. O problema é que, logo em seguida, quando conhecemos Ray Van e Pirôla, o diretor repete diversos takes usados na abertura (!!!), algo que escancara ainda mais sua incompetência e a falta de qualquer tipo de cuidado ou ambição de Os Parças, que, assim, ao menos parece assumir que é uma porcaria completa.
Os Parças, assim, pode ser exatamente o que seu público-alvo deseja. Mas, se você estiver procurando uma comédia que cumpra seu requisito mínimo (fazer rir), este não é o filme para você.
“Os Parças” (Brasil, 2017), escrito por Cláudio Torres Gonzaga, dirigido por Halder Gomes, com Tom Cavalcante, Bruno de Luca, Whindersson Nunes, Tirullipa, Paloma Bernardi, Oscar Magrini, Taumaturgo Ferreira e Pedro Henrique Moutinho.