Logo antes da sessão de Os Parças 2 reli o texto do CinemAqui sobre o primeiro filme, para entrar no clima. Isso abaixou mais ainda minhas expectativas sobre o que viria. Mas não o suficiente. Agora o próximo passo é fazer terapia vendo algum filme ruim que pelo menos consiga divertir por tão ruim que ele é. Sharknado, por exemplo.
Em Sharknado, o canal Syfy junta o elenco que conseguiu arrumar para filmar um grupo de pessoas salvando uma cidade ameaçada por tubarões lançados por furacões vindos do oceano. A história é ruim e todos conseguem saber. Na produção sabiam disso antes mesmo das filmagens começarem, e esse detalhe é o único em comum com o filme sendo analisado. O objetivo de Sharknado é atrair fãs de trash que gostam da experiência de análise de cinema em tempo real de como fazer um filme ruim. O experimento deu certo e uma franquia de sucesso nasceu.
No momento em que eu escrevo esse texto existem seis Sharknados catalogados no IMDB, sendo que o sexto já teve a decência de anunciar o fim da série.
Já Os Parças estão em seu segundo filme, e ele sequer serve como exemplo de como não fazer cinema, pois para isso seus criadores precisam ao menos tentar, mas um de seus astros, Tom Cavalcante, arrisca dizer que eles estão tentando preencher uma lacuna deixada pelos Trapalhões. Há sentimentos por trás do filme, mas giram em torno de um mal estar generalizado, acredito que não por apenas um, mas por vários motivos.
O elenco do filme não é de atores, mas diverso, composto por comediantes, dinossauros como Tom Cavalcante e novidades como Tirullipa, e Whindersson Nunes, uma pessoa vinda do YouTube, onde ele faz enorme sucesso porque lá, diferente da mídia tradicional, há a liberdade de criar personagens, reais ou não, de bom gosto ou não, que caem no gosto de algum público. E como a internet vem mostrando, esse “algum público” que consomem esse conteúdo de humor está longe de ser desprezível (Nunes teve o canal com mais inscritos no Brasil por um ano e meio).
(Além desses comediantes há também uma pessoa chamada Bruno De Luca, ator de televisão em alguns papéis, mas que ficou mais conhecido nos tempos atuais pelo programa de humor na internet Porta dos Fundos, onde foi referenciado como “Luquita da Galera”. Além disso, conforme consta na Wikipédia, ele é conhecido também por ter pago 15 mil a um funcionário de hotel por ter sido processado e condenado ao chamar a vítima de “favelado”.)
A produção desse filme se aproveitou do sucesso dessas pessoas. Em uma parceria entre Globo Filmes e 20th Century Fox, a recém-criada produtora Formata foi alavancada. Com seu primeiro filme, Os Parças, Formata é uma das que ajuda a solidificar esse modelo de engajar novas celebridades da nova mídia em projetos de exposição para outras mídias, como cinema. Dessa forma, todos ganham, comercialmente falando, mas a longo prazo todos perderão, pois o talento desses astros não está sendo usado para explorar o humor, e sim para gerar conteúdo futuro para a TV, em uma tentativa furtiva de “roubar conteúdo” dos canais de onde cada um faz sucesso.
O elenco é formado por pessoas talentosas, atores ou não, que conseguem público, cada um em seu próprio canal de entretenimento. O roteiro, escrito por Cláudio Torres Gonzaga, não usa as personalidades que tem à disposição para exaltá-los em material de qualidade, mas prefere utilizar um roteiro preguiçoso que continua a partir do primeiro filme e que usa pequenos truques de trama preguiçosos envolvendo um mafioso e o gerente de um hotel atrás deles junto de várias desculpas para que a ação ocorra em uma colônia de férias decadente para adolescentes.
A decadente colônia de férias não opera e serve apenas para lavagem de dinheiro, mas para conseguir levar a história adianta há uma colônia vizinha com recursos e outro grupo de adolescentes para formar volume e alguns conflitos artificiais que irão desencadear romance e importantes lições que todos irão aprender no último minuto do filme. Tudo isso para gerar situações de improviso para a turma formada por Tirullipa, Whindersson e Cavalcante, “apoiados” por De Luca (alguém para dizer algumas falas de encaixe), que passam a competir com a colônia vizinha.
A diretora Cris D’Amato não está no controle da situação. Ela apenas mantém o clima agradável para que seu elenco e produção façam o que já seria feito de qualquer forma, mas é em seus cortes e enquadramentos que a vemos perder a mão da narrativa, pois logo vemos que a câmera está onde obviamente deve estar, e não há tentativa alguma de criação falando de cinema, mas apenas diferentes palcos e cenários que na edição são unidos para compor uma comédia standup ao ar livre.
Justiça seja feita, é nos improvisos que surgem as piadas que essa turma consegue fazer, criando momentos que o espectador irá realmente apreciar de seus ídolos, mas em volta de tudo isso há uma história e um universo com humor zero, inspirado em novelas e séries televisivas em que não há a necessidade de desenvolver uma trama que nos envolva, mas apenas dar palco para que os talentos atuem.
“Os Parças 2” (Bra, 2019), escrito por Cláudio Torres Gonzaga, dirigido por Cris D”Amato, com Tom Cavalcante, Whindersson Nunes, Tirullipa, Bruno de Luca e Fabiana Karla.
1 Comentário. Deixe novo
Se o filme for tão ruim quanto o trailer, deve ser uma grande m…mesmo. Como que alguém faz um trailer daquele onde você pode observar nitidamente, as piadas forçadas e sem graça, as situações bizarras e absurdas que nitidamente forçar o espectador a fugir dessa coisa?
Mais ao que parece pela, pré vendas dos ingressos, se tornará um grande sucesso como o primeiro.
Lamentável