Aquarius

Oscar, Lobby, Protestos e Sexo Explícito | Editorial

Aquarius não foi escolhido pela “comissão do Oscar”, em seu lugar, quem poderá conseguir ir à cerimônia da Academia é Pequenos Segredos. E sabem o que isso quer dizer? Ninguém sabe, já que o filme ainda não chegou aos cinemas e apenas uma meia dúzia de pessoas conseguiu ver.

E isso impede alguém de falar mal da escolha? Obviamente que não. Principalmente quando se leva em conta como funciona o tal do Oscar. E entender como funciona a Academia deveria ser um requisito básico para que essa escolha fosse feita.

Mas antes de qualquer coisa, é bom sempre arrancar o elefante do canto da sala nem que se à tapa: O Oscar não serve para nada a não ser colocar “Ganhador do Oscar” no alto do cartaz na hora do relançamento ou na capinha do DVD/Blu-ray. Ou melhor, o Brasil não precisa do Oscar.

O cinema nacional não precisa provar absolutamente nada para ninguém. Talvez aquele público pouco interessado em cinema “de verdade”, que enche as salas das comédias do Leandro Hassum e diminui o cinema brasileiro em comparação ao dos nossos hermanos até ache que o cinema daqui precisa provar algo. Mas realmente não precisa. Talvez o Oscar seja bom para eles próprios sentirem que estão sendo aceitos, uma carência que precisa dessa estatueta para ocupar esse vazio.

E falando em fora das nossas fronteiras, o mundo inteiro já não só respeita o Brasil, como se interessa demais por essa pluralidade que tanto marca o nosso cinema. Vários cinemas, vários estilos e várias linguagens dentro de um mesmo país. Uma diversidade de tons e histórias encontrada em poucos, ou quase nenhum, país do mundo.

Mas voltando ao Oscar, um dos países que já respeita o cinema brasileiro é, justamente, os Estados Unidos. “Respeita” talvez seja uma palavra um pouco forte, mas Hollywood chega perto de aceitar a nossa existência, já que o Brasil já encheu os bolsos deles algumas vezes, com vários atores e diretores “importados” daqui pra lá. E ai que vem a pergunta, então porque não tentar usar isso a nosso favor?

Poucas atrizes brasileiras são mais conhecidas nos Estados Unidos do que, justamente, Sonia Braga. A atriz tem três indicações aos Globos de Ouro e desde 1985, com O Beijo da Mulher Aranha (que já a levou à cerimônia do Oscar) vem transitando em Hollywood com a propriedade e a aceitação de uma atriz americana (sim, isso soa preconceituoso, e é, Hollywood não aceita tão bem gente de fora em sua festa). Mas ainda, quando o Oscar chegar ela vai ter acabado de participar da nova série da Marvel/Netflix, Luke Cage. Mais que pop que isso, impossível.

Mas ok, concordo que Aquarius é um filme difícil, que trata de um assunto extremamente “regional” e com um sutileza crítica que talvez possa atrapalhar sua vida por lá. Voltando então a repetir os mesmo erros de ver Que Horas Ela Volta? e O Som ao Redor não colocarem seus vestidos de gala e passaram pelo tapete vermelho do Kodak Theater. Talvez algo mais pop fosse a melhor escolha. E não existe nada mais pop hoje do o UFC.

Mais forte que o mundo

Mais Forte que o Mundo então estava ai para ser essa escolha. Um filme sobre um dos maiores ídolos do esporte, dirigido por um cara que já passou por Hollywood (passou mal, mas passou!). A dupla José Aldo e Afonso Poyart estavam prontas para serem entregues aos “leões do lobby” em uma bandeja de prata.

Aquarius é hoje o filme brasileiro mais visto no exterior, nunca um filme daqui teve uma carreira tão intensa de festivais em tão pouco tempo. E sua estreia já está marcada para o circuito americano para o mês que vem. Mais Forte que o Mundo chegaria com uma facilidade incrível aos cinemas de lá, e com certeza atrairia a atenção de uma parcela interessante de amantes do esporte, além de surpreender a muito com suas qualidades estéticas.

Melhor ainda, ambos vêm atrelados com uma qualidade acima da média. Mas acho que nesse momento isso não deva ser colocado em jogo, já que praticamente ninguém viu Pequenos Segredos, e a levar em conta que ele foi o escolhido pela comissão do Ministério da Cultura, é preciso partir do princípio que ele tem suas qualidades. Pensar o contrário seria uma bobagem.

O problema aqui é entender onde o MinC quer chegar. Se no Oscar ou no respeito.

Para quem busca o Oscar, obviamente Aquarius e Mais Forte que o Mundo seriam opções melhores e que facilitariam o lobby na Terra do Tio Sam, ainda mais quando Pequenos Segredos soa como um filme interessante, com sua estrutura inventiva e um visual bonito, mas que se escora em um drama trágico que não é fácil de vender (conclusões tiradas pelo trailer e sinopse).

Agora, se o MinC quer usar Pequenos Segredos para provar respeito, escolhendo o melhor filme e tentando mostrar ao mundo que nosso cinema é esse, sensível, bonito, trágico e cheio de lágrimas, erra feio. Achar que precisa provar algo para alguém é, acima de tudo, não conseguir olhar o que não está ao redor do próprio umbigo e desconhecer algo que já não é uma novidade.

Pequenos Segredos

E por fim, para não fugir do assunto. Sim, não há dúvidas que Aquarius paga agora pelos seus protestos em Cannes (se você não sabe sobre o que eu estou falando… deveria saber). Já pagou pela sua censura 18 anos e agora pagará pela não indicação, e seria inocência acreditar que não existe nenhuma indicação “do alto” para que isso aconteça. A última coisa que esse governo iria querer é um “Fora Temer” no Tapete Vermelho ou pior ainda, um “Fora temer” com a estatueta do Oscar no colo.

E aqui um epilogo sobre a tal Censura 18 anos (assim já acaba com todo o assunto de uma vez só!). Ainda que pelo guia de Classificação Indicativa a censura 18 anos não seja algo tão absurdo assim, já que apresenta sim, mesmo que por pouco tempo, cenas que podem ser consideradas “relação sexual explícita, de qualquer natureza, inclusive masturbação, com reações realistas dos personagens participantes do ato sexual, com visualização dos órgãos sexuais. Não ocorrendo necessariamente em obras pornográficas” (texto tirado do próprio guia oficial), não seria um absurdo nenhum relevar isso e permitir a Censura 16 anos que diz “Cena, hiper-realista ou de longa duração, com qualquer modalidade de sexo (vaginal, anal, oral, manual) não explícito”, para facilitar a vida do filme nos cinemas. Ainda que o tiro tenha saído pela culatra e criado uma curiosidade tão grande que encheu os cinemas de filas.

Pequenos Segredos não deve ter nenhum desses problemas, e espero realmente que sua vida nos cinemas seja um sucesso, assim como que suas qualidades calem a boca de todos e o levem até o palco do Oscar. Não por respeito ou necessidade do Brasil ter um Prêmio da Academia, mas sim para quem sabe enfim paremos com essa obsessão babaca de trazer para cá o Oscar e, ai sim, o grande público começar a dar valor aos Ursos, Palmas e outros prêmios que quase todo anos nosso cinema já disputa.

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