Os melhores momentos da carreira do diretor francês Alexandre Aja são sempre acompanhados da tensão. Seu novo filme, Oxigênio, é então mais um exemplo de como o cineasta sabe segurar a atenção de seu público através de uma pressão que os esmaga diante de uma história que pode até ser simples, mas sempre se mostra surpreendente.
Tanto em Alta Tensão (2003), como no remake Viagem Maldita (2006), quanto no seu mais recente, Predadores Assassinos (2019), Aja lida com tramas que escalonam de modo singular e que se tornam experiências poderosos diante do inesperado e das surpresas. Oxigênio começa com a sufocante constatação de uma mulher (Mélanie Laurent) que acorda dentro de uma espécie de caixão.
O melhor a ser fazer nesse momento é falar o mínimo possível sobre qualquer outro aspecto da trama. O pouco que você percebe nos primeiros minutos de filme é que você está, pelo menos, em algum tipo de ficção científica, já que o tal caixão é todo moderno e até fala (com a voz do Mathieu Amalric). Realmente o resto é um esforço enorme do roteiro Christie Leblanc para te surpreender. E com certeza vai.
São camadas e mais camadas de surpresas que irão construindo um filme que acaba muito (mas muito!) longe de onde ele começou. Só isso já será suficiente para agradar bastante os fãs do gênero, já que eles realmente não estarão preparados para tudo que vai vir. Em certo momento, por mais que o filme recorre até, como o título lembra, ao oxigênio, ele simplesmente deixa de ser até importante para a trama, já que você irá entrar em uma jornada existêncial para realmente pensar sobre o sentido da vida.
Tudo bem, isso parece exagero, mas não é. Na verdade, é apenas uma ferramenta usada com uma certa facilidade pela ficção científica, que adora parecer estar falando de uma coisa, quando na verdade está falando de outra. Oxigênio está sim falando de outra coisa, está tentando enxergar as agruras de um futuro pouco otimista, mas que o gênero nunca foge de pensar sobre ele.
É lógico que aos poucos, junto com essa vontade de discutir o que está por trás da ação, Oxigênio é tenso. A situação vai ficando mais e mais desesperadora a cada descoberta que a protagonista faz (junto com o espectador), tudo com ele dentro do “caixão”. A decisão estética faz parte da narrativa e ambas só funcionam juntas desse jeito, amarradas no mesmo mistério e sem nunca se sabotarem.
Melhor ainda, o roteiro é sutil na hora de plantar certas sementes na primeira hora de filme, o que faz muito bem para a segunda metade, onde todas florescem de modo divertido e talvez façam muita gente ter vontade de voltar para ver tudo de novo e “sacar” as dicas.
Talvez o único impedimento de um filme com tudo no lugar, seja essa vontade que ele teima em apelar para uma série de flashbacks. Por mais que eles tenham uma função narrativa precisa (vamos nos manter sem spoilers!), bastava muito menos deles para o efeito ser o mesmo.
De qualquer jeito, Oxigênio, funciona na maioria do tempo, é tenso, cheio de surpresas, tem um ritmo interessante e um diretor que consegue encontrar jeitos criativos de manter a ação dentro desse caixão, mesmo espremida e até cheia de movimentos. Laurent dá conta do recado e consegue variar entre todos os sentimentos e pressões que a personagem carrega. Mas tudo isso está lá para a metade final do filme surpreende o espectador, fazendo o terço final explodir a cabeça de muita gente.
Com certeza isso é mais que o bastante para fazer de Oxigênio um passatempo que acerta no alvo e irá ser um achado incrível para os fãs do gênero.
“Oxygène” (Fra/EUA, 2021); escrito por Christie LeBlanc; dirigido por Alexandre Aja; com Mélanie Laurent, Malik Zidi, Mathieu Amalric, Eric Herson-Macarl e Laura Boujenah