Paris Pode Esperar Filme

Paris Pode Esperar | Estreia de Eleanor Coppola soa entendiante, mas apetitoso


Você gosta de comer? Eu adoro. Se você gosta de gastronomia e viagens há uma grande chance de apreciar Paris Pode Esperar, que nos apresenta algumas atrações que podem ser vistas e degustadas próximas do caminho entre Cannes e a capital francesa. Claro que você deverá ir sem pressa e com um guia que conheça os prazeres da boa vida. O guia de preferência deverá ser francês.

E é mais ou menos isso que acontece em um filme protagonizado por Diane Lane, a esposa de um produtor de filmes atarefado (Alec Baldwin). Mas ela parece uma coadjuvante frente aos inúmeros pratos e atrações que ela e o sócio de seu marido, obviamente de nome Jacques (Arnaud Viard), encontram em uma inusitada viagem em direção a Paris. Se bem que inusitado me parece uma palavra inapropriada, já que todos os acontecimentos parecem tão milimetricamente planejados que é como se Jacques fosse de fato o guia de viagens que mencionei.

E esse é um dos problemas de Paris Pode Esperar, que torna tudo muito óbvio e previsível. É claro que no fundo se trata de um agradável passeio, e é muito melhor ver esses dois atores participando desse roteiro que o vídeo publicitário de uma agência de viagens. Porém, espera-se o filme todo por alguma história por trás de uma aventura francesa, nem que seja a constatação que a vida merece ser celebrada. Mas aqui se trata de um Comer, Rezar e Amar sem nenhuma tensão, ou um Antes da Meia Noite sem diálogos memoráveis ou algum assunto minimamente interessante.

Esta é a estreia no roteiro e direção de Eleanor Coppola, esposa de Francis Ford Coppola por décadas. Talvez ela esteja se sentindo à deriva depois de tantos anos ao lado do marido. É sabido que cineastas, atarefados e obcecados por natureza, não costumam conseguir aproveitar muito do que suas vidas privilegiadas lhe oferecem, e Eleanor parece observar isso sob uma ótica nostálgica e naturalista, além de ter conhecimento de causa. O curioso é que esta é a segunda ocorrência na direção da família Coppola. Sua filha, Sofia, tem se saído muito bem com filmes que exploram a vida luxuosa e artificial da alta sociedade e dos famosos em geral.

Paris Pode Esperar Crítica

De qualquer forma, esta é sim uma celebração à vida, de uma maneira bem peculiar e torta, como as estradas por onde Jacques prefere dirigir. Mas não é a própria vida essa estrada onde o clichê “o caminho trilhado é mais importante que o destino”? Talvez nós mesmos, espectadores, estejamos aguardando algo de um filme onde o seu próprio trajeto seja nos fazer pensar sobre isso. Não é à toa que o espírito dos irmãos Lumiere, criadores do cinema, aparece no meio do filme. Para eles sua criação não tinha futuro, mas olha onde estamos. Será o cinema neste filme a própria vida, sempre frágil e prestes a desabar, e demonstrará ele que o percurso sempre se torna infinitamente mais interessantes que seu objetivo?

Algumas questões parecem emergir dos breves momentos em que Diane e Jacques conversam sobre algo mais sério, como a maneira com que a vida nos leva de evento em evento, como todo mundo tem problemas e como nada disso realmente importa. Porém, como pequenas ondulações de um lago, logo ela se funde ao todo e nada mais resta. Há algumas alusões a obras de pintores famosos, e como alguns momentos desses dois poderiam evocar a percepção do artista de como tudo aquilo é fugaz. A própria vida, aprendemos próximo do final, é frágil e um pequeno e rápido milagre, no único momento onde o filme nos consegue toda a atenção que merece.

Paris Pode Esperar talvez soe entediante para muitos, ou abrir o apetite de outros. Mas não é em nada pretensioso, e gosto disso nele. Mas particularmente gosto mais da maneira como os japoneses olham para suas comidas, com seus rituais e tratando-a como algo sagrado, digno de se apreciar. Jacques pode tentar dourar a pílula francesa, evocar as maravilhas da horta e da vida mais “natural”, mas chega um momento que vemos que até a comida para eles parece algo menos relevante do que o que cada francês coloca em seu pedestal particular: seu próprio ego.


“Bonjour Anne” (USA, 2016), escrito e dirigido por Eleanor Coppola, com Diane Lane, Alec Baldwin, Arnaud Viard, Linda Gegusch, Élodie Navarre


Trailer – Paris Pode Esperar

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