[dropcap]P[/dropcap]ássaro do Oriente nos mostra a história de Louisa “Lucy” Fly (Alicia Vikander), uma enigmática expatriada na Tóquio do final dos anos 80, onde trabalha como tradutora. Atormentada por um passado obscuro e distante emocionalmente, ela se surpreende com a vontade de se relacionar com o misterioso fotógrafo Teiji Matsuda (Naoki Kobayashi).
Enquanto, aos poucos, Lucy permite que sua verdadeira natureza aflore, a chegada de Lily Bridges (Riley Keough), uma ingênua e intensa enfermeira americana em sua vida e de Teiji precipita diversos eventos até que Lily desaparece misteriosamente e Lucy é interrogada pelos detetives Oguchi (Ken Yamamura) e Kameyama (Kazushiro Muroyama), onde descobrimos todas as facetas da tradutora e seus relacionamentos.
Adaptado de um livro de Susanna Jones de 2001, é narrado em flashback e centrado na protagonista, vivida com surpreendente introspecção e sutileza por Vikander, que consegue demonstrar a lenta queda na paranoia e perturbação mental de Lucy. Não digo isso de maneira pejorativa não, é até bastante natural e ajudada pela performance incrível da sueca, o diretor e roteirista Wash Westmoreland consegue pegar o espectador pela mão e lentamente desenvolver sua história.
Exige do espectador paciência e concentração, pois nada é o que parece ser durante os dois primeiros atos, misturando e intercalando momentos de tranquilidade cotidiana com outros de tensão e medo. É bastante sugestiva a escolha da protagonista por morar no Japão, onde a cultura de esconder as emoções e manter uma impassividade ao longo do dia permite poucas oportunidades de expressão. Acompanhando a vida de Lucy, vemos que ela consegue ser aceita na sociedade japonesa até com certa facilidade, justamente por ter o mesmo estado mental de discrição e repressão da maioria das pessoas.
O surgimento de Teiji e depois de Lily são os catalisadores de uma transformação e, por que não, de uma redenção da protagonista no terceiro ato, onde numa rara escorregada, a chave vira de sutileza para suposta catarse. Questão de opinião, a mudança ficou muito abrupta, teria sido melhor manter a progressão mais contemplativa e serena que perpassa praticamente toda a projeção.
Tecnicamente irrepreensível, com boa reconstituição de época e excelente trilha sonora, destaque absoluto para as ruas das cidades por onde se passa a trama e as criativas formas de demonstrar tanto a vida externa quanto a vida interior da protagonista, sem apelar para narrações em off e outros clichês.
Em suma, mais do que um filme facilmente catalogável em qualquer gênero, embora possa ser considerado como um suspense, Pássaro do Oriente é um estudo de personagem muito bem dirigido e escrito e, principalmente, bem atuado por Vikander, que vale a visita de quem busca um entretenimento mais desafiador.
“Eatrhquake Bird” (ING/JAP/EUA, 2019), escrito e dirigido por Wash Westmoreland, baseado no livro de Susanna Jones, com Alicia Vikander, Naoki Kobayashi, Riley Keough, Ken Yamamura e Kazushiro Muroyama.