Quando os palhaços chegam no cinema não sabemos mais se é a linguagem do cinema que faz rir ou é a linguagem dos palhaços que faz cinema. De qualquer forma, Poropopó é o primeiro filme dirigido pelo artista circense Luís Antônio Igreja e está em cartaz nessa Mostra de São Paulo para quebrar um pouco o ritmo incessante dos dramas da vida real.
Aqui tudo funciona e não precisa de legenda, pois é usada a linguagem universal dos palhaços: gestos. A história é sobre uma família de palhaços que vivia em um circo itinerante e resolvem tentar vida nova em uma cidade. Eles enxergam a realidade em sua volta do ponto de vista de um palhaço, eles não deixam os narizes vermelhos quando saem do picadeiro. É o mundo invertido, o que já causa estranheza desde o início e nos faz pensar ao inverso, o que já é uma diversão à parte.
Aos poucos as palhacices, percebemos, faz parte também dos outros personagens que a família da jovem Julieta encontra na tal cidadezinha e nós encontramos rimas com as pessoas do mundo real e os palhaços, o que é deveras interessante, pois nos sentimos mais palhaços e menos gente grande vendo as interações exageradas, mas ainda cotidianas. O roteiro de Denise Bernardes e Rodrigo Parra se perde em devaneios, mas não existe trama senão a mais básica e está tudo bem. Em Poropopó a experiência conta mais do que detalhes de narrativa.
Luís Antônio é formado em cinema, dança e teatro. Dirigiu e integrou o grupo teatral Companhia do Gesto. Tudo aquilo é muito seu dia-a-dia, e sua câmera apenas aponta para os diferentes palcos da vida cotidiana. Em alguns momentos pode sonhar mais alto, como a visão de um drone do vizinho de Julieta, Romeu (sim, os nomes são caricatos, e isso é bonitinho). Como é difícil fugir das piadas comuns o filme de Igreja foca mais em trazer-nos as origens da comédia no cinema, através dos gestos dos filmes mudos, e se movimenta tão rápido que uma horinha depois já acabou.
“Poropopó” (Bra, 2021), escrito por Denise Bernardes e Rodrigo Parra, dirigido por Luís Antônio Igreja, com Letícia Pedro, Luigi Montez e André Abujamra.