Não adianta, todo ano é a mesma coisa, o pessoal blasé finge não se importar com o Oscar, fica afoito com as indicações, discute as injustiças e em poucos segundas já está apostando até dinheiro nos vencedores. E eu não sou diferente desse pessoal.
E isso acontece por falta de assunto. Nada mais no mundo do cinema funciona direito enquanto os benditos dos prêmios da Academia não acabam. E esse hype atinge ainda grande parte do “público médio”, que faz do Oscar seu termômetro de quais filmes serão obrigatórios em sua listinha. Fugir disso, ou soa como recalque ou parece alienação.
Mas o interessante mesmo é descobrir o quanto o Oscar é importante em sua desimportância. Para o filme que ganhar, para o ator que levar aquela estatueta para a casa, e todo resto de indicados é uma óbvia propaganda. Cada um deles poderá levar para o resto de sua vida aquela estampa de “Ganhador” ou “Indicado”, o que é ótimo para quem souber o que fazer com ela (o “Melhor Diretor” Kevin Costner resolveu fazer Water Word, mas não é hora de julgar). Para o lado de cá (os cinéfilos e todo o resto), a diversão é torcer para seu filme preferido, e isso é importante o suficiente como entretenimento para justificar qualquer paixão pela premiação.
Por outro lado, em termos artísticos, o Oscar não vale nada. E posso afirmar isso sem o mínimo receio de parecer prepotente.
Duvida disso? Então espere ano que vem e dê uma olhada nos principais sites especializados em cinema nos Estados Unidos e dê de cara com enormes propaganda “para sua consideração”. Modo objetivo de fazer com que o votante “lembre” desse ou daquele filme, assim como de uma outra atuação de um desses filmes. Essas campanhas são abertas, feitas pelos grande estudios. E não tenha dúvidas que isso e uma enorme rede de amizades pese na hora da decisão de um monte de gente, o próprio Samuel L. Jackson já declarou por ai que “só vota nos parceiros” . E antes que você me pergunte: sim, o Oscar é uma festa entre amigos!
Os mesmos caras que votaram nas Associações de Atores, Diretores, Roteiristas etc., serão aqueles que votarão no Oscar, e isso não é novidade nenhuma, tanto que o melhor jeito de “adivinhar” quem vai sair da próxima noite de domingo com o Oscar embaixo do braço é dar uma olhada nessas outras premiações. É impensável achar que um número substâncial de votantes mude de ideia entre uma premiação e outra. Tampouco é bobagem pensar que o número de não associados aos Sindicatos se revelem o fiel da balança de alguma grande reviravolta.
Leia-se associados todos aqueles que trabalham sob supervisão dele (em sua maioria americanos). E em termos de Academia, uma pesquise de 2012 do jornal LA Times apontou que 94% dos votantes do Oscar eram brancos (negros e latinos eram 2% cada, obviamente o resto eram de outras etnias), o que quer dizer, a não ser em casos extremos, o Oscar é um reflexo desses sindicatos. Para se ter uma ideia, o SAG (Sindicatos dos Atores) desde de 2005 só errou três vezes (de 18 premiados).
Portanto, a não ser por uma reviravolta de última hora (e graças a uma campanha que vem assolando Los Angeles com cartazes, e os meios de comunicação com propagandas) 12 Anos de Escravidão não irá levar o Oscar de Melhor Filme. O que não muda nada em relação a sua posição de grande filme do ano em Hollywood. O filme de Steve McQueen é sim obrigatório e impecável, esfrega na cara da própria Academia a culpa por anos de escravidão (não há dúvidas que muitos dos antepassados dos “eleitores do Oscar” já açoitaram sua meia dúzia de escravos) e mereceria não só esse, como qualquer outro prêmio que concorrer. Mas como Gravidade enche os olhos!
O próprio Alfonso Cuaron levou o prêmio do Sindicatos do Diretores, e deve levar o Oscar, assim como o filme deve se dar muito bem na maioria das sete indicações em categorias técnicas. Emmanuel Lubezki deve sair da noite com seu Oscar, afinal conseguir fazer com a câmera o que Cuarón tinha na cabeça é realmente impressionante, e isso vale para a montagem do próprio Cuarón com Martin Pensa. Junte a isso ao incrível trabalho de som do filme (Melhor Mixagem e Edição) e, por fim, Efeitos Visuais e a Academia já tem seu Melhor Filme saindo desse domingo de premiações com meia dúzia de Oscars.
Em compensação, Gravidade também pode ser o maior perdedor da noite caso a Academia resolva premiar não só Lupita Nyong´o como Melhor Atriz Coadjuvante (como no SAG), mas ainda ignorar a magreza de Matthew McConaughey (que também levou o SAG) e dar a estatueta para o merecedor Chiwetel Ejiofor. Os próximos passos podem acabar sendo premiar o incrível figurino, o lindo designe de produção e a montagem precisa, além de em uma virada de mesa final, 12 Anos de Escravidão tirar o Oscar das mãos de Billy Ray por Capitão Phillips (que levou o premio do Sindicato dos Roteiristas) e decretar seu caminho em direção o Melhor Filme.
Enfim, para quem quiser apostar com mais certeza nos ganhadores, não se acanhe e procure os resultados dos sindicatos. Quem quiser errar todas apostas vote em seus preferidos (nunca ganham!). E quem quiser ficar tenso durante a noite, escolha 12 Anos de Escravidão em tudo. Mas o melhor de tudo isso é que em um ano repleto de grandes filmes, qualquer que seja o resultado, será muito difícil não agradar a todos.