Por que um diretor de cinema não filmaria seus pais? A resposta rápida é que nem todo cineasta vem com pais que valem a pena ser filmados. Bom, este vem e Quatro Primaveras é um filme sobre um diretor estreante Qingyi Lu que filma um casal adorável de pais que fazem tantas coisas sozinho que me sinto mal de perder tanto tempo na internet.
Eles são a atração principal neste filme. Vivem em uma cidade perto de montanhas e plantações de arroz. Plantam e cuidam de sua casa como se tivessem o dobro de horas por dia disponíveis que o resto dos seres humanos. E adoram as reuniões de família. Cozinham um banquete sozinhos. Não estou falando de apenas ele ou ela. Ambos não param um minuto. Suas atividades são uma inspiração para quem vive entediado.
O mais impressionante é que apesar da idade já avançada eles aprendem coisas novas, como cuidar de abelhas e editar músicas pelo computador. Quando não estão cada um em sua atividade caminham juntos pelas montanhas, colhendo novas plantas para cuidar em casa.
Não há diálogos explicativos neste documentário, porque seus protagonistas se expressam de várias outras formas. É na interação entre eles ou com a família ou sozinhos. O filme nunca fica chato, pois há sempre algo novo sendo explorado por eles.
A direção do filho, Qingyi Lu, também é inspirada. Faz cortes precisos de momentos que se tornam únicos, o que nos faz esquecer que tudo isso é rotina para eles. A diferença é que a rotina deles é extraordinária para nós, humanos “urbanóides” da vida moderna, enfurnados em vidas inúteis ou promíscuas, com a mente improdutiva, crescendo erva daninha em volta. Quatro Primaveras é um hino para nos acordar para a vida.
Há um momento difícil para eles. Uma perda de um ente querido. O diretor filma com forças que estão além do projeto. E o resultado é belíssimo na montagem. É difícil atingir profundidade em documentários, mas este é um achado chinês que sequer precisa de roteiro.
“Four Springs” (Chi, 2017), dirigido por Qingyi Lu, com Bo Huang, Guixian Li e Yunkun Lu.