Que Mal Eu Fiz A Deus?

Que Mal Eu Fiz a Deus?

Seria realmente complicado fazer uma comédia sobre preconceito, com personagens racistas e situações igualmente politicamente incorretas e tudo isso não se tornar um experiência dolorosa para o espectador. Que Mal Eu Fiz A Deus também não consegue fazer isso, ainda que não seja tão doído assim.

Na comédia francesa, um casal tradicionalista do interior abastado do país vê suas três filhas se casarem com um muçulmano, um judeu e um chinês, e enquanto acabam colocando todas suas fichas no casamento da caçula, descobrem que, ainda que ela vá se casar com um católico e vá fazer o desejo dos dois, o futuro genro é negro.

E sim, por mais que pareça meio absurdo que a premissa de Que Mal Fiz A Deus seja somente essa, é com isso que quem entrar no cinema vai ter que lidar: um desfile imbecilizado de um humor rasteiro e preconceituoso até o último frame. Um roteiro que simplesmente se contenta com o politicamente incorreto e nem se preocupa em ser minimamente inteligente.

É lógico que o modo despretensioso com o qual o filme lida com os assuntos acaba arrancando algumas risadas, principalmente no modo caricatural e veladamente racista com o qual os genros se enxergam (talvez a única coisa poucamente interessante), mas não só uma piada repetida à exaustão se torna sem graça, como quando ela envolve um fundo racista ela se torna insuportável.

Mas não encarem isso como algum tipo de grito desesperado de algum guardião do politicamente correto (que diga-se de passagem, são quase sempre uns chatos!), o problema aqui é outro. Nesse esforço para fazer rir com os esteriótipos raciais e religiosos, não sobra espaço para nenhuma simpatia com quem deveria ser algo perto de um protagonista: o pai, vivido por Cristian Clavier.

Que Mal Eu Fiz A Deus? crítica

Desenvolvido pelo roteiro como um trem desgovernado, Claude (o pai), inicia rodeado por um incômodo por ver suas filhas casarem fora da religião, em pouco tempo está discutindo a questão da imigração com um fascismo peculiar e em um terceiro momento decide destruir uma floresta inteira ao descobrir que irá ter um negro na família (e netos “mestiços”). Porém, em um reviravolta inesperada (ou não!), o único modo delicado que o roteiro encontra para diminuir essa antipatia é trazer para a história alguém mais racista e preconceituoso ainda: o pai do genro negro, completando então o “bom e velho panorama”.

Que Mal Eu Fiz A Deus então vai empilhando erros, deslizes e verdadeiros tombos. E ainda que o riso dentro da sala de cinema pareça mostrar algo diferente, é a apenas uma ilusão. Talvez, pior ainda, o filme acabe sendo um triste retrato de uma realidade tanto francesa, quanto europeia, como pelo resto do mundo, um sucesso nas bilheterias que vem quase com a permissão de poder se sentir confortável diante de uma espécie de preconceito velado que pode ser colocado pra fora junto com o riso do espectador sentado ao lado.

Mas tudo bem, no final todos eles dançam juntos, viram sócios e uma família feliz, e ai você pode voltar para casa saltitante e contente, mesmo tendo dado risada do negro simplesmente por ele ser negro. Uma experiência que só não é mais dolorosa e vexatória, pois no escuro do cinema não dá para saber a real etnia ou religião de cada um que está gargalhando.


“Qu´et-ce Qu´on A Fait Au Bon Dieu” (Fra, 2014) escrito por Philippe de Chauveron e Guy Laurent, dirigido por Philippe de Chauveron, com Christian Clavier, Chantal Lauby, Ary Abittan, Medi Sadoun, Frédéric Chau, Noom Diawara, Frédérique Bel e Pascal N´Zonzi.


Trailer – Que Mal Eu Fiz a Deus?

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