Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo | Cópia vazia de um monte de outras coisas

É difícil entender o que leva uma pessoa a conceber um filme como Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo. Ou seu diretor Zack Snyder tem sérios problemas cognitivos, ou a Netflix não se importa de ser enganada em favor de uma polêmica, ou até uma parcela inteira da comunidade de cinéfilos está cega, meio burra e completamente equivocada de celebrar alguém como Snyder. Uma farsa.

Tudo no filme é um pastiche, mas talvez Snyder não saiba o que isso quer dizer. Então voltando… Tudo no filme é uma cópia vazia de outra coisa sem intenção nenhuma de celebrar ou até satirizar, é apenas um arremedo pobre e sem criatividade.

Ao que tudo indica, Rebel Moon nasce de um projeto que o próprio Snyder apresentou para a Lucasfilms em 2012 para se tornar um filme dentro da franquia Star Wars. Um que talvez rivalizasse com o Episódio IX, mas que, por sorte, não foi aceito. É impossível saber o quanto desse Rebel Moon já estava lá naquela proposta, mas é fácil perceber o quanto Snyder decidiu roubar de Star Wars para fazer seu novo filme.

Não só da saga de George Lucas, mas principalmente ainda do eternamente larapiado Akira Kurosawa, que teve seu Sete Samurais tão refilmado e “homenageado” que se tivesse recebido todo dinheiro que deveria de direitos autorais, teria morrido mais rico que o Walt Disney. Mas tudo bem, o que o diretor japonês e mais uma penca de cineastas conseguiram fazer em 90 minutos, Snyder precisará de uns 400, divididos em dois filmes que foram filmados juntos e terão auguns meses de distância entre suas estreias.

Mas a história é uma só, porém cortada no meio por uma cena de ação absolutamente anticlimática e sem emoção. Que culmina a busca de Kora (Sofia Boutella), uma mulher que estava lá quieta arando sua plantação em câmera Lenta quando seu planeta (deve ser a tal Lua do título, mas não explica), ou melhor, sua pequena vila, recebe a visita de um império galáctico que destronou o Rei e agora anda por aí fantasiados de nazistas. Eles querem todos grãos da vila enquanto atazanam a vida dos moradores, mas eles não sabiam que Kora, na verdade, é uma soldada tão condecorada e fiel ao antigo Imperador que acabou se tornando a pessoa mais procurada da galáxia.

Azar deles, já que ela vai matar todos soldados que ficaram na vila e sair em busca de um exército para enfrentar os nazistas do espaço quando eles voltarem daqui a sei lá quantos dias. Esqueça os detalhes, nesse momento o espectador já estão tão soterrado de clichês, ideias roubadas de outros filmes e diálogos absolutamente precários que nada importa mais. Ainda que muita gente vá gostar e se divertir por terem visto menos filmes do que gostariam e acabem achando legal a cópia em vez de apreciar o original.

Mas Kara ainda é uma mulher e precisa de uns machos para ajudá-la. Da vila ela sai com Gunner (Michiel Huisman) que é praticamente um traidor, mas o roteiro o perdoa muito rápido. Mais para frente, encontra Kai (Charlie Hunnam), um proto Han Solo que a leva para convencer mais quatro personagens completamente estereotipados para defenderem a vila quando os nazis voltarem. E não se esqueçam de um robô que ficou na vila e tem a voz do Anthony Hopkins. Façam as contas, se no final de tudo não tiverem sete, alguns vão morrer.

E vão morrer em slow motion. Mais ainda, em uma câmera lenta no meio do slow motion. As duas expressões querem dizer a mesma coisa, mas vamos chamar diferente, pois Snyder consegue diminuir ainda mais a velocidade de uma cena já com a velocidade reduzida. Gente caindo, gente levantando, mão no trigo e areia, porta abrindo, tiro, nave descendo e o que mais você imaginar estará em câmera lenta. Na velocidade “normal”, Rebel Moon teria 90 minutos… quem sabem menos, o que seria um alívio para os espectadores.

Mas o filme é caro e cheio de efeitos visuais vistosos e bacanas. O cara sem camisa domina um genérico do Hipogrifo de Harry Potter, a moça oriental com lâminas de plasma (não sabres de luz!) enfrenta uma mulher com corpo de aranha, Djimon Hounsou surge com uma tanguinha à la He-Man. Tudo é desesperadoramente bonito, plástico e enche os olhos, mas nada tem uma profundidade maior que um pires e um background com jeitão de Spy Kids.

Enquanto isso tudo está rolando, Kora é muito mais uma coadjuvante do que alguém realmente importante para a trama, talvez guardando energias para a cena final e para o segundo filme. Ou talvez ela não esteja muito interessada em um filme violentamente sem violência. Os golpes duros e cortantes não parecem machucar ou matar, mas são visualmente impactantes para entreter o público jovem que não poderia ver um filme com sangue ou palavrões. O resultado beira o desprezível e desinteressante. Nada parece ter personalidade suficiente para chamar a atenção de quem viu uma dúzia de filmes clássicos que deveriam servir de inspiração, não de cópia.

Talvez esse também seja o objetivo de Snyder, entregar para um público precarizado em termos de bagagem cultural, uma salada de ideias roubadas de outros filmes, fontes que essas pessoas talvez não conheçam e então não percebam que estão sendo enganadas. Um desleixo e um desrespeito tão grande que nem sequer se preocupa em explicar o subtítulo e contar para ninguém de onde vem o fogo que está queimando a menina (no original, “child”).

Talvez só mais um truque de Zack Snyder. Um jeito de entregar ao seu público aquilo que os hipnotizará o suficiente para não perceberem o quanto estão sendo enganados. Nomes bacanas, cenas vistosas, efeitos digitais caros e personagens que todo mundo já viu em algum lugar, a mistura perfeita para uma farsa que deverá ser engolida por muita gente que não tem vontade alguma de cobrar do diretor, mais do que apenas uma diversão vazia pueril.


“Rebel Moon – Part One: A Child of Fire” (EUA, 2023); escrito por Zack Snyder, Kurt Johnstad e Shay Hatten; dirigido por Zack Snyder; com Sofia Boutella, Djimon Hounsou, Ed Skrein, Michael Huisman, Bae Doona, Ray Fisher, Charlie Hunnam, Anthony Hopkins, Staz Nair, Fra Fee e Cleopatra Coleman.


Trailer do Filme – Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo

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