Antes de quase destruir toda moral da dupla dinâmica, Joel Schumacher era aquele diretor do terror adolescente (naquela época isso tinha conotações positivas) Garotos Perdidos, e só isso já mostra o quanto seguir esse cineasta novaiorquino é como estar em uma montanha-russa. E isso fica mais evidente ainda entre os “mamilos do Batman” e os dias de hoje, o que, talvez acabasse não criando muitas expectativas em torno de seu novo filme, Reféns.

Na verdade, talvez não existisse nenhuma expectativa, mesmo com a cara da dupla de ganhadores do Oscar, Nicole Kidman e Nicolas Cage, estampando os pôsteres do filme. Por isso que é surpreendente acabar percebendo o quanto Reféns funciona.

Não que Reféns seja esse thriller empolgante, de certo modo até é, mas não parece preocupado em, justamente, ser maior do que, realmente, é. Nele, Cage e Kidman são um casal de ricaços que, de uma hora para outra, são atacados por um quarteto de bandidos que invadem sua casa a procura do conteúdo de um cofre. Ainda que o trailer, de modo desesperado, tente vender a ideia desse casal (com uma filha adolescente) reagindo ao roubo, Reféns, de modo surpreendente até, escolhe muito mais a tensão do que a ação.

Schumacher então aposta suas fichas no mesmo número que o fez acertar com o interessante Por um Fio, jogando o espectador na situação dos protagonistas e não contando uma história por si só. Reféns conquista então seu público por fazê-los participar, estar ali naquela casa, sob a mira desses bandidos sem entender muito bem onde tudo pode chegar e de onde tudo veio. De modo tremendamente consciente ainda, o roteiro de Jarl Gadjusek vai montando esse cenário sem se apressar em nenhum momento e, não poucas vezes, surpreendendo seus espectadores.

O grande resultado então vem da combinação entre essas pequenas surpresas que movem a trama e a tensão da situação, principalmente graças ao desenvolvimento acertadíssimo de todos personagens, heróis ou vilões. Diante da falta de cenários e cenas de ação, Schumacher vai de encontro a esses personagens, a suas motivações e a enorme coerência de suas ações, o que não deixa o espectador sair dessa história, já que entende perfeitamente o que cada um está fazendo.

Nesse quesito, é obvio que Schumacher é agraciado com um elenco que funciona perfeitamente e dá sustentação para uma interessantíssima atuação de Nicolas Cage, daquelas que fazem todos se lembrarem de seu Oscar (e do como ele fica melhor sem ter que matar uma pilha de bandidos). Cage, como esse vendedor de diamantes é o ponto chave de Reféns, já que é a partir dele que o filme mais surpreende, principalmente pela possibilidade de criar esse personagem que transborda um controle emocional e tem a oportunidade de criar essa inversão de papeis onde ele parece estar mantendo de reféns e manipulando os próprios bandidos, fazendo disso talvez o lado mais divertido do filme.

Infelizmente, Schumacher só parece não ter confiança ou coragem para fugir do óbvio e acabar rumando para uma resolução que, se por um lado exala essa coerência que mantém durante todo filme, por outro não entrega nada de diferente para o público. Como se acabasse ele próprio refém (desculpem o trocadilho) de uma certa veracidade narrativa, que não é ruim, mas impede o filme de ir mais longe, já que, no final das contas, tirando reviravoltas narrativas, tudo acaba, ditatorialmente, do mesmo jeito que começou. Como se aquela noite pudesse ser logo esquecida por aquela família depois de uma noite de sono.

Mas talvez quem tenha o trabalho mais difícil do filmes seja o montador Bill Pankow (conhecidos por trabalhos interessantes como em Olhos de Serpente e Os Intocáveis), já que tem pouco material com que trabalhar (praticamente o filme inteiro acontece em um escritório) e consegue impor esse ritmo tenso e frenético que atinge o público em cheio. E ainda que pareça, em certos momentos, um tanto quanto sabotado pelo roteiro que precisa de um punhado de flashbacks para se manter na trama, Pankow então acha uma solução interessante ao desacelerar essas lembranças e as tirar do ritmo poderoso do resto do filme. Como se tirasse o pé do acelerador para olhar pelo vidro retrovisor.

Reféns então é esse thriller meio psicológico que funciona com suas próprias ferramentas e não tenta ser maior do que realmente é, que entrega para seu espectador um filme muito mais surpreendente, justamente, por ninguém dar nada por ele.


Trespass (EUA, 2011), escrito por Karl Gajdusek, dirigido por Joel Schumacher , com Nicolas Cage, Nicole Kidman, Ben Mendelshn, Liana Biberato, Cam Gigandet, Jordana Spiro e Dash Mihok


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