Em algum lugar entre o fim do primeiro e o começo desse quinto Resident Evil tudo parou de fazer sentido. É lógico que todos três filmes cumpriram suas obrigações lineares e foram de um lugar ao outro de modo “organizado”, mas é impossível acreditar que tudo isso pudesse resultar em Resident Evil 5: Retribuição.
Sem o menor receio de se tornar o pior e mais caricato filme de toda série, Retribuição, simplesmente decide por ser um emaranhado desencontrado de referências tanto dos outros filmes quanto dos jogos de videogame que serviram de inspiração para os filmes. O fã vai então ficar feliz ao dar de cara com alguns personagens que fizeram sucesso nos jogos (como o Barry aqui vivido por Kevin Durand), assim como a volta de algumas caras conhecidas da série de filmes (Michelle Rodriguez até volta para uma participação sem graça), mas no segundo seguinte nem ao menos conseguirão entender como aquilo tudo poderia estar ali.
O roteiro de Paul W. S. Anderson (que também é o culpado pela direção) até tenta limpar essa barra e começar o filme com uma recapitulação didática e estabanada para logo em seguida colocar a heroína Alice (Milla Jovovich em um piloto automático desde o chão do chuveiro no começo do primeiro filme) em poder da Umbrella Corporation, aprisionada em uma base submersa em algum lugar gelado da Rússia.
O resto é uma espécie de cópia preguiçosa do primeiro filme (e que já tinha acontecido no anterior) com ela tendo que fugir do lugar e usando agora vários “ambientes de treinos” como cenários para que ela e seu grupo de salvamento enfrentem grandes chefões, hordas de zumbis e o que mais tiver aparecido nos games e tenha a oportunidade de brilhar na tela (e até alguns “itens especiais” como um óculos e uma arma copiado do Batman). Para completar, Anderson ainda resolve misturar um punhado de atores em trabalhos horrorosos, poses imbecilizadas e vestindo roupas saídas da série de jogos, formando muito mais um desfile de cosplay do que um elenco digno de análise.
Tudo piora ainda mais quando se compara Retribuição ao anterior, o que acaba sendo algo inevitável, já que a ideia é continuá-lo do ponto onde ele terminou (o que deve acontecer com o próximo filme, que ainda não foi confirmado, mas que deve acontecer). Nesse novo filme, tudo parece ser o resto de alguma ideia apresentada em outro filme. E mesmo que os mais otimistas possam indicar esses momentos como “referência”, é impossível não pensar em pura preguiça narrativa, com tudo se embolando e não chegando a lugar nenhum enquanto uma contagem regressiva promete explodir todo complexo Umbrella, caso eles consigam fugir ou não.
E esse imediatismo com que toda trama é tratada é um reflexo do que a toda franquia se tornou, colando os finais com os começos dos próximos filmes, mas nunca tentando manter ou continuar uma ideia através desses dois pontos. Como se jogasse fora tudo que aconteceu no filme antes de chegar àquela última cena que ditará o rumo do próximo, mesmo que ela não faça o menor sentido dentro daqueles noventa e poucos minutos que se passaram.
Por sorte, mesmo ofendendo seriamente a inteligência de todos que entrarem na sala de cinema com resoluções e motivações que caberiam em um pires (sem derramar), Resident Evil 5: Retribuição, pelo menos, continua se esforçando para apresentar um 3D eficaz, limpo e divertido. Bem menos interessante que o do filme anterior, mas ainda assim buscando uma profundidade interessante em conjunto com um punhado de objetos voando em direção ao espectador, o que acaba fazendo valer o preço (muito mais caro) dos ingressos.
Mas para quem se divertir e sair satisfeito com todo “samba-do-zumbi-doido” (quase sem zumbis é verdade) que a série se tornou, resta então esperar um próximo filme que deve começar de um jeito, mudar completamente de foco durante o meio (e dar um jeito de apresentar a heroína, e esposa do diretor, seminua) e no final, inventar uma reviravolta maluca com menos sentido ainda, mantendo (ai sim!) a unidade que uma franquia como essas se contenta em ter.
Resident Evil: Retribution (EUA, 2012) escrito por , dirigido por Paul W.S. Anderson, comMilla Jovovich, Sienna Guillory, Michelle Rodriguez, Bingbing Li, Boris Kodjoe, Johann Urb, Kevin Durand e Oded Fehr.
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